segunda-feira, 24 de agosto de 2015

SAUDADE DO TERREIRO - por Niclecia Gama de Nicanor e Dé.


Vendo as fotos da casa do pai, postadas por Professora Zete, bateu uma tristeza, uma saudade pungente da casa do Buri, onde o mundo, Daiane Oliveira, também era do tamanho da minha imaginação. O dia parecia não ter fim, enquanto desbravava a caatinga e catava umbu e licuri pelo mato, enchia a barriga de bambão, de murta, de araçá-mirim e de serrote, uma frutinha selvagem e pequenina.
Se para os soteropolitanos, terreiro é um lugar ritual das religiões de matizes africanas, para nós, do sertão, o terreiro é o quintal da casa, aquela parte em que não se planta nada, que´é varrida com vassourinha-do-mato, e a areia é sempre clara.
Gostava de acordar ao som da voz de minha avó Luzia, que depois de fazer o café, já anunciava que iria varrer o terreiro. Gostava até de ir para o Buri andando e explorando as plantas e flores do caminho, de sentir a secura da caatinga e de esperar a promessa da chuva e a explosão de vida depois dela. Por isso, amo tanto a chuva.
À tardinha, sentávamos no baldame do alpendre para admirara luz do sol morrendo atrás do rio Itapicuru, para depois renascer no coqueiral que havia atrás da casa.
Hoje, após perdas inevitáveis na minha família, marcadas principalmente pela partida de minha avó Luzia, tentamos nos reinventar.A saudade ainda dói demais. O terreiro não é mais o mesmo, a casa já não traz alegria, a caatinga não tem mais as mesmas cores, mastudo vive aqui, dentro de mim.

"Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo..." *

* A poesia é a letra de Lamento Sertanejo, de Gilberto Gil com música de Dominguinhos.

sábado, 1 de agosto de 2015