terça-feira, 27 de outubro de 2015

CURIOSIDADES DO UMBUZEIRO 02

VOCÊ SABIA?


O povoado do Buri é um conglomerado de sitios e chácaras com criação de gado e plantações diversas ao longo de toda sua extensão.
Existe também um núcleo central com terrenos menores, praças, escolas, comércio e igrejas.
Todo este povoado um dia foi uma fazenda, chamada Tamburil, e pertencia a Gaspar Antonio dos Reis. A sede da fazenda ficava no local onde até hoje chamam de "Laje".
No inventário de Gaspar Antonio, feito em Março de 1870, dois meses após sua morte, a fazenda foi dividida entre doze de treze filhos. Cada um desses filhos dividiu sua fazenda entre seus herdeiros também e assim por diante.
Além disso muitas pessoas compraram, venderam, permutaram. Mesmo assim, 90% do povoado continua sendo de descendentes de Gaspar Antonio.
Em seu inventário os limites da fazenda (hoje povoado) foram descritos assim:
"As terras da fazenda Buril cituada as margens do Rio Itapicuru limitando rio abaixo com a fazenda Calumbi e rio acima com a fazenda Cauanga e para o lado do leste e sul com terras da aldeia da Villa do Soure e das fazendas Lagoa Funda e Tanque, constando alguns brejos, tudo sendo visto
e avaliados em seis mil contos de réis." (+ou - R$43.176.000,00)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

CURIOSIDADES DO UMBUZEIRO 01

VOCÊ SABIA?


O primeiro juiz de paz em Cipó foi Domingos Alves dos Reis, nomeado por decreto pelo secretário do Interior e Justiça do Governo do Estado da Bahia em 26 de Janeiro de 1940 e tomou posse em 31 de Janeiro do mesmo ano.

Domingos era casado com Ana Rosa (Iaiá), filha de Elpidio* e Benzinha**.
Irmão de Constância, Maria Pureza (Benzinha**), Elevita (Biita), Joana Francisca (Vanum), Luiz,
João Bernardino (João Buri), Maria, Ana (Nanã), Donana, Francisca, Antonio, Vicente, Mariana,
Mariana (irmã gêmea de mesmo nome, apelidada Sinharinha), José e Gaspar Antonio Neto.
Filhos de José Antonio dos Santos Reis (Ioiô do Buri) e de Luzia Bibiana de Santa Anna (Mãe Sinhazinha).
* Elpidio, filho de Anna Maria (Naninha).
José Antonio e Naninha, filhos de Gaspar Antonio dos Reis

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

UTOPIA

Distantes ou perto
Longe da terra de seus ancestrais
Ou no berço certo
Há um povo de características tais
Que não se iguala ao caboclo nordestino
Nem ao galego sefardita
O Sol do sertão baiano foi seu destino
E os traços de seus olhos, de origem israelita
Na caatinga encontrou seu rumo
Vestiu o gibão do vaqueiro
Trocou a uva pelo umbu e seu sumo
Continuou com seu Deus verdadeiro
Mas trocou Shalom por Oxente
Modificou seu sobrenome de origem
Mais de uma vez, outra vez, inteligente
Jurou pelo amor da Virgem
Pra se livrar da fogueira
Seus filhos não sabem quem são
Pensam que arrastam eras
Perdidos no sertão
Ser... tão.... distante, sertão distante
Almas confundidas
Misturadas entre si de modo constante
Continuam sua lida
Sem ao menos ter ideia
Que nesta vida
Os lobos tem alcateia
Os peixes cardume
Os bois manada
Até os vagalumes
Que parecem voar pelo nada
Luzindo errantes
Tem uma rainha fada
Que une os seres faiscantes
E faz as suas faiscas
Brilharem unidas
Num luzeiro que pisca
Que pisca-pisca vidas.
Mas os descendentes do Buri
Que não nasceram lá
Não tem apego, não vi
Não sentem seu DNA
Não ouvem a voz do sangue
Do pulso que pulsa salmos
Não são como bumerangue
Levam seus dias calmos
Não se atém para dentro
Que no fundo do quengo
Lá no coco, bem no centro
Tem triângulo com dengo
Tem zabumba que não vacila
Tem sanfona com xamego
Tem baião com Hava Nagila
Tem xote com Hine Matov
Tem cordel com Tehilim
Tem festa quando chove
Lá José é Zim
Manoel é Maninho
Senhor é Ioiô
Pai é painho
Voinho é o avô
Faz tempo é d'ôje
d'ôje a oito é Semana que vem
E cor de burro quando foge
Não existe, não tem
Porque nunca dá tempo disso acontecer
Lá tem vaqueiro valente, peão coisado
Com sangue nos zoio a correr
E se o burro foge, coitado
Dá dois passos e cai
Nem percebeu ser laçado
Fugir de novo não vai
Nem o boi desaforado
Nem o cavalo atrevido
Quem manda lá é o cabra da peste
E bicho maluvido
Que não passa no teste
Vira matula na roça
Alimenta o agrossistema
E você, primo que acha que é da bossa
Que é carioca da gema
Que é paulista da garoa
Que é mineiro esperto
Que é mochileiro e vive a toa
Que é estrangeiro sem rumo certo
Que é gaucho da peleia
Que é catarinense juliano
Que é capixaba de muqueca cheia
Que é paraense curitibano
Que é goiano, matogrossense, ou sulmatogrossense,
Sergipano, piauiense,
Pernambucano, cearense,
Alagoano, tocantinense,
Potiguara, maranhense,
Rondonense, paraense,
Amapaense, amazonense, roraimense,
Seja lá de onde acha que pertence,
É semita a sua raiz,
Judeu, assim te chamo
Hibérico, seu tronco diz,
Espanhois e portugueses os seus ramos
Nordestinos os seus frutos, suas folhas
Queira você esconder, apagar
Você não tem essa escolha
Não é pegar ou largar
Vista o gibão na alma marrana
Ponha o solidéu na cabeça hibero-americana
Bote a cruz de malta na precata baiana
Bula tudo in riba de um tacho de melado de cana
E esta é a receita pra fazer você
Ame suas origens, sua história, seja sábio,
Não renegue que em suas veias tem dendê
Pastel de belém nos lábios
Maçã com mel no sorriso
Junte-se mais, traga os seus
Enterre seu preconceito de parente
Com a ajuda de Deus
O empenho da gente
Não seremos como o ditado
Que um povo sem tradição
Sem apego, sem cuidado,
A cada geração
Morre uma vez
Não sei quanto ja morremos
Mas quem sabe, talvez.
Juntos poderemos
Mudar
Fazer diferente
Voltar
Ser um novamente
Resgatar tradições perdidas
Fazer encontros novos
Deixar um legado às novas vidas
Misturar os costumes dos povos
Criar uma nova tradição
Fazer ela perpetuar-se
Compor nova canção
Cada um habituar-se
E nunca mais nos perdermos
Ao contrário, cada dia descobrirmos além
Todo dia nos conhecermos
Se você quer ver isso acontecer: - Venha também!

Danilo Marques

Se você é desta família e este texto te sensibilizou, se você quer um novo tempo nesta familia (me refiro a graaande familia espalhada), colabore, leia os textos (na íntegra, pois muitos que curtem, depois perguntam de assuntos que eu já publiquei), tente ajudar como você puder, somar, dê o seu melhor. Traga os primos, assista o video "O Umbuzeiro" e leia a s novas chamadas explicativas sobre a família e os pedidos de ajuda e colaboração.

SE NEM TUDO PODE SER RESGATADO, VAMOS RECOMEÇAR!

    Video:




MARCOLINO JOSÉ DOS SANTOS


Não se sabe ao certo quando nasceu, um dia eu descubro, segundo vários depoimentos de quem o conheceu, que ele era português, desembarcou no Brasil aos cinco anos de idade e viveu em Porto da Folha, estado de Sergipe.

Em 1895 chegou no Buri (Ainda não era Cipó, era Mãe dágua de Sipó (com "S" mesmo), distrito de Nossa Senhor da Conceição de Natuba (Atual Nova Soure) e somente na década de 1930 Cipó foi emancipada).

Quando Marcolino chegou ali, ele era viuvo e trazia três filhas:
- Maria Francisca, nascida em 02 de Abril de 1890;
- Jovina, nascida em 31 de Julho de 1891;
- Julia (chamada Mãe Dindinha), nascida em 20 de Janeiro de 1893.

Marcolino era Sefardita como a familia de Constância, trabalhava como gameleiro (fazia gamelas, colher de pau e outros objetos de madeira), ensinava as pessoas lerem e escreverem (professor de beabá ou de abecê, como diziam, e alfabetizou quase toda a familia e inclusive muita gente de fora o procurava pelo Buri para aprender; qualquer ancião vivo hoje em Cipó, que foi alfabetizado, foi alfabetizado por Marcolino ou Ana da Rumana, filha de ex escrava);Marcolino também era sanfoneiro e dos bons.

Voltando a fita, Marcolino chegou no Buri e foi a uma festa.
Nesta festa, pediu às três filhas, então com 5, 3 e 2 anos de idade que procurassem entre as mulheres presentes, uma mãe. E assim elas fizeram.

Marcolino não "chegou junto"!
Não vestiu a melhor fantasia de Michel Teló, na balada, quando olhou a menina mais linda, e não chegou pra ela e disse: "Nossa, nossa, assim você me mata; ah se eu te pego, ah se eu te pego".
Não, também não tirou o chapéu e entregou flores;
Também não entregou uma poesia;
Também não deu uma piscadinha de soslaio;
Também não leu o site "cantadas de pedreiro" e não mandou uma do tipo: "Seu nome é Tamara? É que Ta-maravilhosa!" "Que marca de shampoo você usa? Eu-Serve"?
Não, ele não cantou serenata, não mandou correio elegante, não chamou pra dançar, não fez dança do acasalamento, nada.

Ele olhou para as filhas Maria Francisca, Julia e Jovina e disse algo do tipo: "Ô essas miniiina! Arrudeiem por aí e vejam entre as mulheres na festa se alguma quer ser mainha de vocês"; ou então ele já tinha visto Constância e disse algo assim: "Estão vendo aquela mulher? Perguntem a ela se quer ser a mainha de vocês."

Golpe baixo à parte (pois imagino uma mulher em 1895 olhar para uma menina de cinco anos, outra de três, outra de dois e ouvir uma frase dessa sem se comover), deu certo, ela aceitou, e se casaram em 05 de Maio de 1895.

Constância nasceu em 12 de Agosto de 1871, era viuva (aos 22 anos incompletos de idade) de Sergio Marques de Santa Anna desde 31 de Julho de 1893 (o qual eu gostaria de pedir a Edson Fernandes que perguntasse ao pessoal dos Olhos D'água se Sergio era irmão, ou filho ou sobrinho de Quinquim). Constância e Sergio não tiveram filhos.

Constância teve dezesseis irmãos: Maria Pureza (Benzinha), Elevita (Biita), Joana Francisca (Vanum), Domingos, Luiz, João Bernardino (João Buri), Maria, Ana (Nanã), Donana, Francisca, Antonio, Vicente, Mariana, Mariana (irmã gêmea de mesmo nome, apelidada Sinharinha), José e Gaspar Antonio Neto.
Filhos de José Antonio dos Santos Reis (Ioiô do Buri) e Luzia Bibiana de Santa Anna (Mãe Sinhazinha).

José Antonio era filho de Gaspar Antonio dos Reis, que em fins do século XVIII era proprietario da fazenda Tamburil (que hoje é toda extensão chamada Buri).
As pessoas perguntavam a Ioiô e Sinhazinha como arrumariam marido para dez filhas. Pois bem, uma não se casou, mas Constância casou-se duas vezes.

Constância assumiu a maternidade de Maria Francisca, Jovina e Julia e as criou com todo zelo de uma mãe que se preze. E com Marcolino teve mais doze filhos.

Marcolino não era Marques, no caderninho o filho Salvador anotou o falecimento do pai, colocando Marcolino Marques dos Santos, mas não era. No inventário de Manoel Antonio, pai de Abilio, Marcolino assinou como arrôgo varias vezes e sua assinatura é Marcolino José dos Santos. Havia o costume sefardita de colocar no filho nome composto: um nome de sua escolha e o segundo nome, o nome do pai, como Abilio Manoel dos Reis, Josino Felix da Gama, Elpidio Domingos dos Reis, Manoel Canuto dos Santos e etc. Mas Marcolino não colocou Marcolino nos filhos, mas o Marques do falecido esposo de Constância. Dizem os antigos que era porque Marcolino não gostava de seu proprio nome, mas a torcida do "Bora Baêa" e eu acreditamos que foi por carinho e amor a Constância, sei la, a história fica mais bonita assim. E não para por aí... Ele certamente era tão apaixonado por Constância que colocou no primeiro filho o nome do falecido esposo: Sergio.
E assim foram:

- Sergio Marques dos Santos, nascido em 16/02/1896, falecido em 02/02/1954. Casado com Francisca Marques dos Santos (Biquita), irmã de Auta Maria (Senhora), Cecilia e Faustina, filhas de Maria Chiquinha da Boa Hora. Sergio e Francisca geraram Izaura, José (Zim) (meu avô paterno), João, Maria, Alzira (atualmente com 91 anos e única remanescente), João, Francisco, Odete, Hilda, Alzira e Elizabete (Betinha);

- Maria Lucinda, nascida em 09 de Fevereiro de 1897 e falecida em 17/02/1928 de complicações pós parto. Casada com Antonio Fidelis da Silva (filho de Maria Pitanga). Maria Lucinda e Antonio geraram Manoelzinho, cujos descendentes moram em Euclides da Cunha;

- Marianna (Priquita), nascida em 11 de Maio de 1898 e falecida em (?????) . Casada com Januário; Marianna e Januario geraram Maria, Francisca, Isabel, Manuel, José, Elvira, Elienai e Dalva;
- Manoel Marques dos Santos, nascido em 09 de Fevereiro de 1901 e falecido em 12 de Novembro de 1920. Morreu solteiro, era noivo de Francisca, futura esposa de Canuto;

- Canuto Marques dos Santos, nascido em 19 de Janeiro de 1903 e falecido em 21 de Julho de 1987. Casou-se em primeirs núpcias com Francisca e após o falecimento desta casou-se com Maria; Com Francisca teve Manuel (Maninho Canuto) e José; com Mari teve Antonio Jorge, Ignacio, Maria Irene Leninha) Manuel Carlos, João, Olegario, Sonia e Elenildes;

- Maria (Maricota), nascida em 28 de Agosto de 1904 e falecida em 1986. Casada com Pedro Fidelis da Silva (irmão de Antonio de Maria Lucinda). Maricota e Pedro tiveram duas filhas: Dejanira (minha avó paterna) e Maria (Lia);

- Maria Vitória (Sinhá Pequena) (minha avó materna), nascida em 06 de Março de 1906 e falecida em 1994. Casada com Galdino Macedo da Silva (Maninho), com o qual teve Benaia, Irondy (minha mãe), Binoan e Rute;

- Maria Siriaca ("Dona" Maria), nascida em 16 de Março de 1907 e falecida em 21 de Outubro de1983. Casada em primeiras núpcis com Cirilo Saturnino com o qual teve Lourdes, João Saturnino e José Saturnino; casada em segundas nupcias com Domingos Brandão, com o qual teve Lucinda, Enoque, Inocêncio (Nuce), Delnicia (Dedinha), Joel, Jevanete, Jeni, Jeane, Pedro e Sergio;

- Salvador Marques dos Santos, nascido em 02 de Janeiro de 1911 e falecido em 02 de Junho de 1986. Casdo com a prima Inês Angelica dos Reis (de Domingos (irmã de Constância) e a prima Iaiá), com a qual teve os seguintes filhos: José (Zequinha), José (Zé Tampinha), Enoque, Elias, Manoel (Nelito), Nair, Edenice, Eremita, Vanussa, Alice, Neuza e Maria Geny;

- José Marques dos Santos, nascido em 12 de Dezembro de 1912 e falecido em 09 de Julho de 2002. Casado com a prima Izabel Gloria dos Santos (Zinzim) de Elpidio e Benzinha (irmã de Constância), com a qual teve os filhos: Idália, Esmeraldo, Manoel, Alaíde, Ilda, Isaias, Ismael, Irundi, Ismaias, Iracilda, Iraildes e Ivailza;

- Maria Evangelista (Caboquinha), nascida em 28 de Dezembro de 1914 e falecida em 1996. Casada com José Dantas Dias (Zé de Izauro, irmã de Julia da Boa Hora), com o qual teve os filhos: Edelvita (Delva), Jesonita (Jó), Rogaziana (Rogah), Elias, Adonias (Dodó), Jeconias (Jacó), Joilson (Zu), Jezaias, Lourdes e Débora;

- Marianno Marques dos Santos, nascido em 28 de Julho de 1918, falecido em (????). Casado com a prima Raquel Rosita dos Santos, de Elpidio e Benzinha (irmã de Constância), com a qual teve os filhos: Edvaldo, Edinalvo (Bó), Enoque Enok Do Acordeon), Elias, Helio, Edgar, Eva, Emilia e José.
Infelizmente ainda não tenho a data do falecimento de Constância.

Constância e Marcolino viveram na fazenda Tamanduá (Camanduá como o povo em Buri chama) e após o falecimento de Constância, Marcolino foi morar com o filho Canuto na fazenda Pesqueiro até morrer, sentado na rede, em 23 de Dezembro de 1952.

Tornou-se muito amigo de Donana (Ana Dantas). Gostava de levar rapadura do engenho do filho Canuto para ela que brincava dizendo "que o namorado dela tinha ido visita-la."
No Pesqueiro, gostava de fazer colher de pau e gamela para vender na feira de Cipó, mas guardava o seu dinheirinho, pois Canuto cuidava do seu sustento total.
Em uma das visitas que ele recebeu de uma das primas da nora Francisca ele disse: "Esses dias estava quase 'quebrando o crauá' mas agora está quase acabando de emendar". No dia seguinte morreu. Acredita-se que foi do coração.

“Caroá” chamada de "crauá" é uma fibra tirada de uma planta da caatinga e utilizada para fazer rede, corda... Hoje é raro as redes dessa fibra devido à caatinga ter sofrido desmatamento.

Marcolino não deixou foto (pelo menos não encontrei com ninguém que me quisesse oferecer uma para eu tirar cópia), mas todos os netos e amigos que o conheceram dizem que ele era baixinho, magrinho, de olhos azuis, carinhoso e muito sorridente; que era uma mistura de Enoque de Mariano com Zequinha de Salvador. Os netos mais parecidos fisicamente com ele.

Na foto, Dil, de Elias de Mariano e eu, Danilo de Irondy e Paulo; Irondy de Sinhá Pequena e Paulo de Zim de Sergio e Dejanira de Maricota.
Mariano, Pequena, Sergio e Maricota, filhos de Marcolino e Consância.
Sentados num banco fabricado por Marcolino na casa de Mariano e Raquel. No Brejinho, Buri, Cipó (Abril de 2015)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

NOS PASSOS DE JARDELINA GAMA - SOBREVIVENTE DA GUERRA DE CANUDOS

Jardelina Gama foi filha de José Rufino da Gamma e Anna Francisca (ou Maria Caetana, como consta em documentos mais antigos), filha de Gaspar Antonio dos Reis.
Teve como irmãos Elpidio José (tão já conhecido em nossas histórias devido a estar no centro das atenções da passagem de Lampião por Cipó nos anos 20), Antonio José, José Rufino, Ana Rosa (Iaiá de Domingos), Pedro, Josina e Joaquina.
Por volta de 1893 , Jardelina e o marido Felix seguiram os passos de Antônio Vicente Mendes Maciel (Nova Vila de Campo Maior, 13 de março de 1830 — Canudos, 22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro,

Ele já vinha de outras peregrinações desde que saira do Ceará e estava pelas redondezas do Itapicuru, Natuba (Nova Soure, a quem Cipó ainda pertencia), Tucano, Pombal, Jeremoabo e adjacências, arrebanhando pessoas, centenas, que por ordem dele reformavam igrejas e cemitérios; acreditando num novo lugar abençoado onde haveria rios de leite e paredes de cuscuz.

Felix, esposo de Jardelina, combateu as tropas do governo que por três vezes foram derrotadas pelos homens do Conselheiro até que no quarto combate houve o massacre. Felix arrastou-se ferido até a praia do rio Vaza Barris e morreu. Jardelina voltou ao Buri com um filho nos braços, Josino Felix.

No livro "Os Sertões" de Euclides da Cunha podemos entender muito sobre esse episódio na história do Brasil, A gente vai viajando por todos os lugares em torno de Cipó, ao longo do Itapicuru e aprende suas origens, a origem do povo do sertão baiano, a origem indigena dos nomes dos lugares: Itapicuru, Cocorobó, Inhambupe, Cariri, Jeremoabo e pensa, onde estão estes povos? O autor acompanha os rios do sertão e vai descrevendo o cenario que vê naquela ocasião, descreve as pessoas, como eram, etc.

Euclides era correspondente do jornal "O Estado de São Paulo" e foi enviado ao sertão baiano para dar notícias da guerra de Canudos, que começou em 1896, um ano apó o casamento de Constância e Marcolino.
Nisto, ele fala como era o povo que ele viu, como eram as matas da caatinga, etc. O sertão baiano dos ultimos anos do seculo XIX; como eram aquelas regiões nos tempos de juventude de Abilio, Jardelina, Elpidio, Benzinha, João Buri, Alfredo, Rodolfo, Biita e seus contemporâneos.

Uma observação: O autor usa muitos termos como "raça inferior"," raça superior", e ainda insinua que esta raça não tem a intelectualidade daquela e etc. Há de se relevar porém, que se trata de um brasileiro branco, do sudeste, em fins do seculo XIX, por isso ainda com aquele equivocado preconceito e falta de conhecimento pessoal, tendo somente aquilo que aprendeu de criação, portanto relevem e apreciem o conteudo de forma geral. você aprenderá muito sobre seus ancestrais baianos.

Outra coisa que me chamou a atenção é sobre um contrato que ninguém escreveu e que o vaqueiro cumpre, e paga: A cada quatro bezerros nascidos, um é do vaqueiro. Isso acontece desde que o sertão passou a ser povoado. Não é uma lei, não está na constituição, mas assim o fazem "porque sim".  É um código de honra e honestidade. Entre os irmãos Salvador, Mariano e Canuto existia este trato, um cuidava das do outro sob esta forma de pagamento. Outra coisa que achei fascinante é a comparação do gaucho (o vaqueiro do Rio Grande do Sul) com o jagunço (o vaqueiro do sertão baiano). O primeiro, imponente, colorido, ousado, um heroi de aspecto forte e varonil; o segundo, sofrido, cortado de sol, envelhecido pelas intempéries, e suas roupas sempre do mesmo couro animal. Porem, numa luta, numa corrida, numa tocaia, o sertanejo não deixaria a desejar, foi forjado pela seca, pela tristeza, pela fome, pela sobrevivência, por não saber o que seria amanhã.

Ainda sobre a lei do vaqueiro, que ninguém escreveu, de um bezerro a cada quatro nascidos, como paga, existe um fato importante. Se um animal se perde e é encontrado por alguem que não é o dono, ou nao trabalha para aquele dono, olhando a marca no animal, reconhecendo o dono, corre a devolver, não reconhecendo, guarda consigo até que um dia encontre, descubra. Se passar muito tempo e este animal der cria, um dia ele devolve pro dono e diz: - Nesse periodo nasceu tantos bezerros, peguei estes pra mim como paga, aqui estão os seus, bem tratados e cuidados. E pasme... este cuidador anônimo chega a copiar a marca do gado encontrado e assim marca os bexerros nascidos dele.

Aqui, o audio livro, onde você pode ir ouvindo enquanto faz suas coisas.

CLIQUE AQUI PRA OUVIR

Voltando a Jardelina, que é nosso tema...
O autor fala da passagem de Antonio Conselheiro pelas proximidades de Cipó, mas não cita este nome, afinal Cipó não existia como municipio, mas pertencia a regiões vizinhas. O tempo do audio onde ele fala desses lugares é: 06.25.24 , também 06.35.09, nestes dois fala do Conselheiro ns regiões do Itapicuru e cita Pombal, Tucano, Jeremoabo, Itapicuru de Cima, e varios outros locais; já em 06.50.42 cita Natuba (que é Nova Soure), certamente é nesta ocasião que o casal Felix e Jardelina segue o Conselheiro para Canudos, onde ja havia um povoamento quase abandonado e arruinado com aquele nome, onde ajudarão a erguer o arraial de Belo Monte. Antes, porém, se encontram em Bom Conselho (Hoje Cicero Dantas) onde pela primeira vez pregou contra o governo republicano. Pois até entao ele apenas falava religiosamente e colocava seus seguidores, centenas que iam se juntando por onde passava, a reconstruir igrejas e cemiterios. Está em 07.02.20 e a partir dali tem seu primeiro embate com as autoridades. Certamente nesta ocsião Jardelina ja estava no grupo. 

Conhecer esta obra é importante para nós, cujos antepassados estiveram de frente com este personagem. 


No video 2, no tempo 2.53 fala que as pessoas que ainda não o tinham seguido, sabendo que eles se assentaram num ponto fixo, começaram a vender tudo que tinham a preço de nada e correrem atras do Conselheiro, e cita todas as cidades ao redor da atual Cipó de novo.

Ainda no video 2 alguns apontamentos:

Tempo 43.56 mostra que pessoas de varios lugares continuavam indo atrás do Conselheiro e levvam seu gado e posses para doar ao lider;

Tempo 44.30 fala sobre  promessa de rios de leite e paredes de cuscuz.

Tempo 46.15 mostra os tipos de pessoas diversas que seguirm o conselheiro, tipos fisicos de homens e mulheres, numa descrição impecável.

Tempo 54.05 Cita alguém do Pau Ferro: Antonio Fogueteiro.

Tempo 56:00 Cita "JOSÉ FELIX, O TARAMELA - Guarda e mordomo de Antonio Conselheiro, chaveiro da Igreja e responsável por acender as fogueiras a noite.
(Será este o "Nosso" Felix?)
Infelizmente não.
Eu quis muito que fosse... Jpa pensou? Um membro de minha família eternizado num livro de Euclides da Cunha? Mas este Felix sobreviveu à guerra, foi para sua cidade natal, Nova Soure e morreu bem velhinho:
Vejam este trecho do livro "Os Beatos", de José Calasans:
"JOSÉ FÉLIX, TARAMELA, DE ALCUNHA
Era do Soure, na Bahia. Conseguiu sobreviver à destruição do Belo Monte e
voltou à terra natal, onde morreu. O Dr. Manuel Ferreira Neto, oficial farmacêutico do Exército e advogado em Aracaju, viu, nos tempos de menino, muitas vezes, o Taramela. Os moradores do Soure sabiam que o velho estivera em Canudos.
Baixo, grosso, caboclo, enxergava pouco, disse-nos Argemiro Pereira dos Santos Aparecido, que o conheceu também.
José Félix falava muito. Possuía fértil imaginação. Alguns sobreviventes, que
encontramos no sertão, esboçavam um sorriso, quando lhes indagávamos como era Zé Félix. “Ah: sêo Zé Félix!” Narrava, com pormenores, os milagres do Santo Conselheiro. Via os jagunços mortos, que perderam a vida combatendo, entrando no céu. Por outro lado, botava cartas, desvendava o futuro, afirmaram-nos Pedrão e Ciriaco. Velho, costumava narrar que o Conselheiro afirmava que ele, ao morrer, teria missa de corpo presente. Aparecido, que vimos em Olindina, declarou-nos que o aviso do Bom Jesus deu certo. José Félix teve missa de corpo presente, rezada em Nova Soure.
Já se encontrava no séquito conselheirista em 1893, antes da ocupação de
Canudos. Salomão de Souza Dantas, que se avistou com os conselheiristas às
vésperas do choque de Masseté, maio do ano acima citado, relacionou nomes de alguns jagunços ligados a Antonio Conselheiro, inclusive José Félix, “uma espécie de criado-grave, pessoa de toda confiança do Santo beato” (Souza Dantas, 07: p. 147).
Manuel Benício informou: “Félix Taramela, contador dos milagres do velho pajé”, seria um dos apóstolos (Manuel Benício, 03: p. 168), e Euclides da Cunha escreveu: “José Félix, o Taramela, guarda das igrejas, chaveiro e mordomo do Conselheiro, tendo sob as ordens as beatas de vestidos azuis cingidos de cordas de linho, encarregadas da roupa, da refeição exígua daquele e de acenderem diariamente as fogueiras para as rezas” (Euclides da Cunha, 06: p. 202). Um menino-jagunço, chamado Agostinho, dera ao escritor fluminense, ainda em Salvador, as notícias de José Félix, esclarecendo que o apelido Taramela vinha do fato de lhe caber a tarefa de abrir as portas para a passagem de Antonio Conselheiro (Euclides da Cunha, 05: p. 38). Apresentamos outra explicação, considerando o modo de ser do “criado-grave”. Taramela ou tramela quer dizer falador, contador de estórias. A alcunha caía bem. Sabia ler e escrever. Favila Nunes, correspondente da Gazeta de Notícias, encontrou e publicou uma carta de José Félix a Romão Soares dos Santos, datada de 15 de maio de 1896. Caligrafia e ortografia, consoante o jornalista, melhores do que de outros missivistas da grei jagunça. Na correspondência, fazia proselitismo. A marca do Senhor já estava dada para quem quisesse gozar da Santa Companhia. Advertia, porém, que Romão não devia levar para o povoado gente que não fosse do agrado do Sr. Conselheiro. A missiva fora escrita no Belo Monte, nome oficial do povoado, na linguagem conselheirista. Deixou uma filha, Ana de José Félix."