sexta-feira, 9 de outubro de 2015

NOS PASSOS DE JARDELINA GAMA - SOBREVIVENTE DA GUERRA DE CANUDOS

Jardelina Gama foi filha de José Rufino da Gamma e Anna Francisca (ou Maria Caetana, como consta em documentos mais antigos), filha de Gaspar Antonio dos Reis.
Teve como irmãos Elpidio José (tão já conhecido em nossas histórias devido a estar no centro das atenções da passagem de Lampião por Cipó nos anos 20), Antonio José, José Rufino, Ana Rosa (Iaiá de Domingos), Pedro, Josina e Joaquina.
Por volta de 1893 , Jardelina e o marido Felix seguiram os passos de Antônio Vicente Mendes Maciel (Nova Vila de Campo Maior, 13 de março de 1830 — Canudos, 22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro,

Ele já vinha de outras peregrinações desde que saira do Ceará e estava pelas redondezas do Itapicuru, Natuba (Nova Soure, a quem Cipó ainda pertencia), Tucano, Pombal, Jeremoabo e adjacências, arrebanhando pessoas, centenas, que por ordem dele reformavam igrejas e cemitérios; acreditando num novo lugar abençoado onde haveria rios de leite e paredes de cuscuz.

Felix, esposo de Jardelina, combateu as tropas do governo que por três vezes foram derrotadas pelos homens do Conselheiro até que no quarto combate houve o massacre. Felix arrastou-se ferido até a praia do rio Vaza Barris e morreu. Jardelina voltou ao Buri com um filho nos braços, Josino Felix.

No livro "Os Sertões" de Euclides da Cunha podemos entender muito sobre esse episódio na história do Brasil, A gente vai viajando por todos os lugares em torno de Cipó, ao longo do Itapicuru e aprende suas origens, a origem do povo do sertão baiano, a origem indigena dos nomes dos lugares: Itapicuru, Cocorobó, Inhambupe, Cariri, Jeremoabo e pensa, onde estão estes povos? O autor acompanha os rios do sertão e vai descrevendo o cenario que vê naquela ocasião, descreve as pessoas, como eram, etc.

Euclides era correspondente do jornal "O Estado de São Paulo" e foi enviado ao sertão baiano para dar notícias da guerra de Canudos, que começou em 1896, um ano apó o casamento de Constância e Marcolino.
Nisto, ele fala como era o povo que ele viu, como eram as matas da caatinga, etc. O sertão baiano dos ultimos anos do seculo XIX; como eram aquelas regiões nos tempos de juventude de Abilio, Jardelina, Elpidio, Benzinha, João Buri, Alfredo, Rodolfo, Biita e seus contemporâneos.

Uma observação: O autor usa muitos termos como "raça inferior"," raça superior", e ainda insinua que esta raça não tem a intelectualidade daquela e etc. Há de se relevar porém, que se trata de um brasileiro branco, do sudeste, em fins do seculo XIX, por isso ainda com aquele equivocado preconceito e falta de conhecimento pessoal, tendo somente aquilo que aprendeu de criação, portanto relevem e apreciem o conteudo de forma geral. você aprenderá muito sobre seus ancestrais baianos.

Outra coisa que me chamou a atenção é sobre um contrato que ninguém escreveu e que o vaqueiro cumpre, e paga: A cada quatro bezerros nascidos, um é do vaqueiro. Isso acontece desde que o sertão passou a ser povoado. Não é uma lei, não está na constituição, mas assim o fazem "porque sim".  É um código de honra e honestidade. Entre os irmãos Salvador, Mariano e Canuto existia este trato, um cuidava das do outro sob esta forma de pagamento. Outra coisa que achei fascinante é a comparação do gaucho (o vaqueiro do Rio Grande do Sul) com o jagunço (o vaqueiro do sertão baiano). O primeiro, imponente, colorido, ousado, um heroi de aspecto forte e varonil; o segundo, sofrido, cortado de sol, envelhecido pelas intempéries, e suas roupas sempre do mesmo couro animal. Porem, numa luta, numa corrida, numa tocaia, o sertanejo não deixaria a desejar, foi forjado pela seca, pela tristeza, pela fome, pela sobrevivência, por não saber o que seria amanhã.

Ainda sobre a lei do vaqueiro, que ninguém escreveu, de um bezerro a cada quatro nascidos, como paga, existe um fato importante. Se um animal se perde e é encontrado por alguem que não é o dono, ou nao trabalha para aquele dono, olhando a marca no animal, reconhecendo o dono, corre a devolver, não reconhecendo, guarda consigo até que um dia encontre, descubra. Se passar muito tempo e este animal der cria, um dia ele devolve pro dono e diz: - Nesse periodo nasceu tantos bezerros, peguei estes pra mim como paga, aqui estão os seus, bem tratados e cuidados. E pasme... este cuidador anônimo chega a copiar a marca do gado encontrado e assim marca os bexerros nascidos dele.

Aqui, o audio livro, onde você pode ir ouvindo enquanto faz suas coisas.

CLIQUE AQUI PRA OUVIR

Voltando a Jardelina, que é nosso tema...
O autor fala da passagem de Antonio Conselheiro pelas proximidades de Cipó, mas não cita este nome, afinal Cipó não existia como municipio, mas pertencia a regiões vizinhas. O tempo do audio onde ele fala desses lugares é: 06.25.24 , também 06.35.09, nestes dois fala do Conselheiro ns regiões do Itapicuru e cita Pombal, Tucano, Jeremoabo, Itapicuru de Cima, e varios outros locais; já em 06.50.42 cita Natuba (que é Nova Soure), certamente é nesta ocasião que o casal Felix e Jardelina segue o Conselheiro para Canudos, onde ja havia um povoamento quase abandonado e arruinado com aquele nome, onde ajudarão a erguer o arraial de Belo Monte. Antes, porém, se encontram em Bom Conselho (Hoje Cicero Dantas) onde pela primeira vez pregou contra o governo republicano. Pois até entao ele apenas falava religiosamente e colocava seus seguidores, centenas que iam se juntando por onde passava, a reconstruir igrejas e cemiterios. Está em 07.02.20 e a partir dali tem seu primeiro embate com as autoridades. Certamente nesta ocsião Jardelina ja estava no grupo. 

Conhecer esta obra é importante para nós, cujos antepassados estiveram de frente com este personagem. 


No video 2, no tempo 2.53 fala que as pessoas que ainda não o tinham seguido, sabendo que eles se assentaram num ponto fixo, começaram a vender tudo que tinham a preço de nada e correrem atras do Conselheiro, e cita todas as cidades ao redor da atual Cipó de novo.

Ainda no video 2 alguns apontamentos:

Tempo 43.56 mostra que pessoas de varios lugares continuavam indo atrás do Conselheiro e levvam seu gado e posses para doar ao lider;

Tempo 44.30 fala sobre  promessa de rios de leite e paredes de cuscuz.

Tempo 46.15 mostra os tipos de pessoas diversas que seguirm o conselheiro, tipos fisicos de homens e mulheres, numa descrição impecável.

Tempo 54.05 Cita alguém do Pau Ferro: Antonio Fogueteiro.

Tempo 56:00 Cita "JOSÉ FELIX, O TARAMELA - Guarda e mordomo de Antonio Conselheiro, chaveiro da Igreja e responsável por acender as fogueiras a noite.
(Será este o "Nosso" Felix?)
Infelizmente não.
Eu quis muito que fosse... Jpa pensou? Um membro de minha família eternizado num livro de Euclides da Cunha? Mas este Felix sobreviveu à guerra, foi para sua cidade natal, Nova Soure e morreu bem velhinho:
Vejam este trecho do livro "Os Beatos", de José Calasans:
"JOSÉ FÉLIX, TARAMELA, DE ALCUNHA
Era do Soure, na Bahia. Conseguiu sobreviver à destruição do Belo Monte e
voltou à terra natal, onde morreu. O Dr. Manuel Ferreira Neto, oficial farmacêutico do Exército e advogado em Aracaju, viu, nos tempos de menino, muitas vezes, o Taramela. Os moradores do Soure sabiam que o velho estivera em Canudos.
Baixo, grosso, caboclo, enxergava pouco, disse-nos Argemiro Pereira dos Santos Aparecido, que o conheceu também.
José Félix falava muito. Possuía fértil imaginação. Alguns sobreviventes, que
encontramos no sertão, esboçavam um sorriso, quando lhes indagávamos como era Zé Félix. “Ah: sêo Zé Félix!” Narrava, com pormenores, os milagres do Santo Conselheiro. Via os jagunços mortos, que perderam a vida combatendo, entrando no céu. Por outro lado, botava cartas, desvendava o futuro, afirmaram-nos Pedrão e Ciriaco. Velho, costumava narrar que o Conselheiro afirmava que ele, ao morrer, teria missa de corpo presente. Aparecido, que vimos em Olindina, declarou-nos que o aviso do Bom Jesus deu certo. José Félix teve missa de corpo presente, rezada em Nova Soure.
Já se encontrava no séquito conselheirista em 1893, antes da ocupação de
Canudos. Salomão de Souza Dantas, que se avistou com os conselheiristas às
vésperas do choque de Masseté, maio do ano acima citado, relacionou nomes de alguns jagunços ligados a Antonio Conselheiro, inclusive José Félix, “uma espécie de criado-grave, pessoa de toda confiança do Santo beato” (Souza Dantas, 07: p. 147).
Manuel Benício informou: “Félix Taramela, contador dos milagres do velho pajé”, seria um dos apóstolos (Manuel Benício, 03: p. 168), e Euclides da Cunha escreveu: “José Félix, o Taramela, guarda das igrejas, chaveiro e mordomo do Conselheiro, tendo sob as ordens as beatas de vestidos azuis cingidos de cordas de linho, encarregadas da roupa, da refeição exígua daquele e de acenderem diariamente as fogueiras para as rezas” (Euclides da Cunha, 06: p. 202). Um menino-jagunço, chamado Agostinho, dera ao escritor fluminense, ainda em Salvador, as notícias de José Félix, esclarecendo que o apelido Taramela vinha do fato de lhe caber a tarefa de abrir as portas para a passagem de Antonio Conselheiro (Euclides da Cunha, 05: p. 38). Apresentamos outra explicação, considerando o modo de ser do “criado-grave”. Taramela ou tramela quer dizer falador, contador de estórias. A alcunha caía bem. Sabia ler e escrever. Favila Nunes, correspondente da Gazeta de Notícias, encontrou e publicou uma carta de José Félix a Romão Soares dos Santos, datada de 15 de maio de 1896. Caligrafia e ortografia, consoante o jornalista, melhores do que de outros missivistas da grei jagunça. Na correspondência, fazia proselitismo. A marca do Senhor já estava dada para quem quisesse gozar da Santa Companhia. Advertia, porém, que Romão não devia levar para o povoado gente que não fosse do agrado do Sr. Conselheiro. A missiva fora escrita no Belo Monte, nome oficial do povoado, na linguagem conselheirista. Deixou uma filha, Ana de José Félix."









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