quinta-feira, 22 de outubro de 2015

MARCOLINO JOSÉ DOS SANTOS


Não se sabe ao certo quando nasceu, um dia eu descubro, segundo vários depoimentos de quem o conheceu, que ele era português, desembarcou no Brasil aos cinco anos de idade e viveu em Porto da Folha, estado de Sergipe.

Em 1895 chegou no Buri (Ainda não era Cipó, era Mãe dágua de Sipó (com "S" mesmo), distrito de Nossa Senhor da Conceição de Natuba (Atual Nova Soure) e somente na década de 1930 Cipó foi emancipada).

Quando Marcolino chegou ali, ele era viuvo e trazia três filhas:
- Maria Francisca, nascida em 02 de Abril de 1890;
- Jovina, nascida em 31 de Julho de 1891;
- Julia (chamada Mãe Dindinha), nascida em 20 de Janeiro de 1893.

Marcolino era Sefardita como a familia de Constância, trabalhava como gameleiro (fazia gamelas, colher de pau e outros objetos de madeira), ensinava as pessoas lerem e escreverem (professor de beabá ou de abecê, como diziam, e alfabetizou quase toda a familia e inclusive muita gente de fora o procurava pelo Buri para aprender; qualquer ancião vivo hoje em Cipó, que foi alfabetizado, foi alfabetizado por Marcolino ou Ana da Rumana, filha de ex escrava);Marcolino também era sanfoneiro e dos bons.

Voltando a fita, Marcolino chegou no Buri e foi a uma festa.
Nesta festa, pediu às três filhas, então com 5, 3 e 2 anos de idade que procurassem entre as mulheres presentes, uma mãe. E assim elas fizeram.

Marcolino não "chegou junto"!
Não vestiu a melhor fantasia de Michel Teló, na balada, quando olhou a menina mais linda, e não chegou pra ela e disse: "Nossa, nossa, assim você me mata; ah se eu te pego, ah se eu te pego".
Não, também não tirou o chapéu e entregou flores;
Também não entregou uma poesia;
Também não deu uma piscadinha de soslaio;
Também não leu o site "cantadas de pedreiro" e não mandou uma do tipo: "Seu nome é Tamara? É que Ta-maravilhosa!" "Que marca de shampoo você usa? Eu-Serve"?
Não, ele não cantou serenata, não mandou correio elegante, não chamou pra dançar, não fez dança do acasalamento, nada.

Ele olhou para as filhas Maria Francisca, Julia e Jovina e disse algo do tipo: "Ô essas miniiina! Arrudeiem por aí e vejam entre as mulheres na festa se alguma quer ser mainha de vocês"; ou então ele já tinha visto Constância e disse algo assim: "Estão vendo aquela mulher? Perguntem a ela se quer ser a mainha de vocês."

Golpe baixo à parte (pois imagino uma mulher em 1895 olhar para uma menina de cinco anos, outra de três, outra de dois e ouvir uma frase dessa sem se comover), deu certo, ela aceitou, e se casaram em 05 de Maio de 1895.

Constância nasceu em 12 de Agosto de 1871, era viuva (aos 22 anos incompletos de idade) de Sergio Marques de Santa Anna desde 31 de Julho de 1893 (o qual eu gostaria de pedir a Edson Fernandes que perguntasse ao pessoal dos Olhos D'água se Sergio era irmão, ou filho ou sobrinho de Quinquim). Constância e Sergio não tiveram filhos.

Constância teve dezesseis irmãos: Maria Pureza (Benzinha), Elevita (Biita), Joana Francisca (Vanum), Domingos, Luiz, João Bernardino (João Buri), Maria, Ana (Nanã), Donana, Francisca, Antonio, Vicente, Mariana, Mariana (irmã gêmea de mesmo nome, apelidada Sinharinha), José e Gaspar Antonio Neto.
Filhos de José Antonio dos Santos Reis (Ioiô do Buri) e Luzia Bibiana de Santa Anna (Mãe Sinhazinha).

José Antonio era filho de Gaspar Antonio dos Reis, que em fins do século XVIII era proprietario da fazenda Tamburil (que hoje é toda extensão chamada Buri).
As pessoas perguntavam a Ioiô e Sinhazinha como arrumariam marido para dez filhas. Pois bem, uma não se casou, mas Constância casou-se duas vezes.

Constância assumiu a maternidade de Maria Francisca, Jovina e Julia e as criou com todo zelo de uma mãe que se preze. E com Marcolino teve mais doze filhos.

Marcolino não era Marques, no caderninho o filho Salvador anotou o falecimento do pai, colocando Marcolino Marques dos Santos, mas não era. No inventário de Manoel Antonio, pai de Abilio, Marcolino assinou como arrôgo varias vezes e sua assinatura é Marcolino José dos Santos. Havia o costume sefardita de colocar no filho nome composto: um nome de sua escolha e o segundo nome, o nome do pai, como Abilio Manoel dos Reis, Josino Felix da Gama, Elpidio Domingos dos Reis, Manoel Canuto dos Santos e etc. Mas Marcolino não colocou Marcolino nos filhos, mas o Marques do falecido esposo de Constância. Dizem os antigos que era porque Marcolino não gostava de seu proprio nome, mas a torcida do "Bora Baêa" e eu acreditamos que foi por carinho e amor a Constância, sei la, a história fica mais bonita assim. E não para por aí... Ele certamente era tão apaixonado por Constância que colocou no primeiro filho o nome do falecido esposo: Sergio.
E assim foram:

- Sergio Marques dos Santos, nascido em 16/02/1896, falecido em 02/02/1954. Casado com Francisca Marques dos Santos (Biquita), irmã de Auta Maria (Senhora), Cecilia e Faustina, filhas de Maria Chiquinha da Boa Hora. Sergio e Francisca geraram Izaura, José (Zim) (meu avô paterno), João, Maria, Alzira (atualmente com 91 anos e única remanescente), João, Francisco, Odete, Hilda, Alzira e Elizabete (Betinha);

- Maria Lucinda, nascida em 09 de Fevereiro de 1897 e falecida em 17/02/1928 de complicações pós parto. Casada com Antonio Fidelis da Silva (filho de Maria Pitanga). Maria Lucinda e Antonio geraram Manoelzinho, cujos descendentes moram em Euclides da Cunha;

- Marianna (Priquita), nascida em 11 de Maio de 1898 e falecida em (?????) . Casada com Januário; Marianna e Januario geraram Maria, Francisca, Isabel, Manuel, José, Elvira, Elienai e Dalva;
- Manoel Marques dos Santos, nascido em 09 de Fevereiro de 1901 e falecido em 12 de Novembro de 1920. Morreu solteiro, era noivo de Francisca, futura esposa de Canuto;

- Canuto Marques dos Santos, nascido em 19 de Janeiro de 1903 e falecido em 21 de Julho de 1987. Casou-se em primeirs núpcias com Francisca e após o falecimento desta casou-se com Maria; Com Francisca teve Manuel (Maninho Canuto) e José; com Mari teve Antonio Jorge, Ignacio, Maria Irene Leninha) Manuel Carlos, João, Olegario, Sonia e Elenildes;

- Maria (Maricota), nascida em 28 de Agosto de 1904 e falecida em 1986. Casada com Pedro Fidelis da Silva (irmão de Antonio de Maria Lucinda). Maricota e Pedro tiveram duas filhas: Dejanira (minha avó paterna) e Maria (Lia);

- Maria Vitória (Sinhá Pequena) (minha avó materna), nascida em 06 de Março de 1906 e falecida em 1994. Casada com Galdino Macedo da Silva (Maninho), com o qual teve Benaia, Irondy (minha mãe), Binoan e Rute;

- Maria Siriaca ("Dona" Maria), nascida em 16 de Março de 1907 e falecida em 21 de Outubro de1983. Casada em primeiras núpcis com Cirilo Saturnino com o qual teve Lourdes, João Saturnino e José Saturnino; casada em segundas nupcias com Domingos Brandão, com o qual teve Lucinda, Enoque, Inocêncio (Nuce), Delnicia (Dedinha), Joel, Jevanete, Jeni, Jeane, Pedro e Sergio;

- Salvador Marques dos Santos, nascido em 02 de Janeiro de 1911 e falecido em 02 de Junho de 1986. Casdo com a prima Inês Angelica dos Reis (de Domingos (irmã de Constância) e a prima Iaiá), com a qual teve os seguintes filhos: José (Zequinha), José (Zé Tampinha), Enoque, Elias, Manoel (Nelito), Nair, Edenice, Eremita, Vanussa, Alice, Neuza e Maria Geny;

- José Marques dos Santos, nascido em 12 de Dezembro de 1912 e falecido em 09 de Julho de 2002. Casado com a prima Izabel Gloria dos Santos (Zinzim) de Elpidio e Benzinha (irmã de Constância), com a qual teve os filhos: Idália, Esmeraldo, Manoel, Alaíde, Ilda, Isaias, Ismael, Irundi, Ismaias, Iracilda, Iraildes e Ivailza;

- Maria Evangelista (Caboquinha), nascida em 28 de Dezembro de 1914 e falecida em 1996. Casada com José Dantas Dias (Zé de Izauro, irmã de Julia da Boa Hora), com o qual teve os filhos: Edelvita (Delva), Jesonita (Jó), Rogaziana (Rogah), Elias, Adonias (Dodó), Jeconias (Jacó), Joilson (Zu), Jezaias, Lourdes e Débora;

- Marianno Marques dos Santos, nascido em 28 de Julho de 1918, falecido em (????). Casado com a prima Raquel Rosita dos Santos, de Elpidio e Benzinha (irmã de Constância), com a qual teve os filhos: Edvaldo, Edinalvo (Bó), Enoque Enok Do Acordeon), Elias, Helio, Edgar, Eva, Emilia e José.
Infelizmente ainda não tenho a data do falecimento de Constância.

Constância e Marcolino viveram na fazenda Tamanduá (Camanduá como o povo em Buri chama) e após o falecimento de Constância, Marcolino foi morar com o filho Canuto na fazenda Pesqueiro até morrer, sentado na rede, em 23 de Dezembro de 1952.

Tornou-se muito amigo de Donana (Ana Dantas). Gostava de levar rapadura do engenho do filho Canuto para ela que brincava dizendo "que o namorado dela tinha ido visita-la."
No Pesqueiro, gostava de fazer colher de pau e gamela para vender na feira de Cipó, mas guardava o seu dinheirinho, pois Canuto cuidava do seu sustento total.
Em uma das visitas que ele recebeu de uma das primas da nora Francisca ele disse: "Esses dias estava quase 'quebrando o crauá' mas agora está quase acabando de emendar". No dia seguinte morreu. Acredita-se que foi do coração.

“Caroá” chamada de "crauá" é uma fibra tirada de uma planta da caatinga e utilizada para fazer rede, corda... Hoje é raro as redes dessa fibra devido à caatinga ter sofrido desmatamento.

Marcolino não deixou foto (pelo menos não encontrei com ninguém que me quisesse oferecer uma para eu tirar cópia), mas todos os netos e amigos que o conheceram dizem que ele era baixinho, magrinho, de olhos azuis, carinhoso e muito sorridente; que era uma mistura de Enoque de Mariano com Zequinha de Salvador. Os netos mais parecidos fisicamente com ele.

Na foto, Dil, de Elias de Mariano e eu, Danilo de Irondy e Paulo; Irondy de Sinhá Pequena e Paulo de Zim de Sergio e Dejanira de Maricota.
Mariano, Pequena, Sergio e Maricota, filhos de Marcolino e Consância.
Sentados num banco fabricado por Marcolino na casa de Mariano e Raquel. No Brejinho, Buri, Cipó (Abril de 2015)

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