quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

ESTÂNCIA HIDROMINERAL DE CIPÓ - 80 ANOS EM 2015



Criada por decreto estadual de 16 de maio de 1935, a primeira estância hidromineral do Estado da Bahia completará 80 anos em 2015. A criação da estância era parte das ações de exploração econômica das águas minero-medicinais do Itapicuru e deu início ao processo de urbanização da Vila de Cipó com a nomeação do prefeito Oscar Caetano da Silva - engenheiro civil do quadro da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado -, que pôs em prática, nos anos seguintes, o seu Plano de Urbanístico.

História

A Capitania da "Baía de Todos os Santos"

Em 1534 o Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias.
Essas capitanias foram entregues a beneficiários, no total de quinze elementos da pequena nobreza de Portugal que foram chamados de Donatários, com enormes privilégios jurídicos e fiscais que a Coroa lhes concedia como o direito de fundar cidades, cobrar impostos e etc.
A Capitania da Bahia de Todos os Santos coube a Francisco Pereira Coutinho.
A costa do atual estado da Bahia foi atingida e reconhecida por navegadores portugueses desde 1500, e desde então foi alvo da ação de contrabandistas de pau-brasil ("Caesalpinia echinata").


A baía que lhe dá o nome foi descoberta no dia 1 de novembro - dedicado, pelo calendário católico, a Todos os Santos -, pela primeira expedição exploradora em 1501.

Com o estabelecimento, pela Coroa Portuguesa do sistema de Capitanias Hereditárias para a colonização do Brasil (1534), o território do atual estado da Bahia estava distribuído entre vários lotes:
- Da foz do rio São Francisco à do rio Jiquiriçá, doado a Francisco Pereira Coutinho (Capitania da Baía de Todos os Santos);
- Da foz do rio Jiquiriçá à do rio Coxim, a Jorge de Figueiredo Correia (Capitania de Ilhéus); e
- Da foz do rio Coxim à do rio Mucura, a Pero do Campo Tourinho (Capitania de Porto Seguro).
O lote que constitui a Capitania da Baía foi doado em 5 de março de 1534. Quando o seu donatário chegou, dois anos mais tarde, já existia na baía de Todos os Santos uma pequena comunidade de europeus entre os quais se destacava Diogo Álvares Correia, o "Caramuru", com a esposa, Catarina Paraguaçu, e muitos filhos.

Com o auxílio destes, Francisco Pereira Coutinho fundou uma povoação (Vila do Pereira, depois Vila Velha, 1536) no alto de Santo Antônio da Barra, onde ergueu uma casa-forte (Castelo do Pereira). A paz reinou durante alguns anos, estabelecendo-se engenhos e espalhando-se as culturas de cana-de-açúcar, algodão e tabaco.

Ao final de quase uma década, o estabelecimento inicial foi arrasada por um maciço ataque dos Tupinambás (1545), que forçou os colonos a se refugiarem na vizinha Capitania de Porto Seguro. Negociada a paz, ao retornarem à Vila do Pereira, o donatário e os colonos naufragaram durante uma tempestade diante da Ilha de Itaparica, tendo os sobreviventes sido capturados e devorados pelos indígenas (1547).

Com a morte do Donatário Francisco Pereira Coutinho, cuja descendência veio a receber da Coroa Portuguesa o morgadio real de jure (de direito) da Bahía, a viúva de Francisco Pereira Coutinho vendeu a Capitania de volta à Coroa Portuguesa, para fins da instalação da sede do governo-geral.

As Capitanias de Ilhéus e de Porto Seguro também foram devastadas pelos Tupinambás. A partir de então a Capitania Real da Baía, formada pelas três Capitanias devastadas tornou-se a sede da colônia portuguesa na América, sendo fundada, para esse fim, a cidade de São Salvador da Bahia, pelo primeiro Governador-geral, Tomé de Sousa em 1549.

Garcia D'Ávila
Em 1563 Tomé de Souza, então Governador Geral da Bahia recebeu pelos seus préstimos à Coroa uam sesmaria de seis léguas ao longo da costa da Capitania Bahiana, que terminava a duas léguas do Rio Itapicuru.
Sesmaria é uma porção considerável de terra destinada ao plantio; As capitanias eram subdivididas por sesmarias e os sesmeiros tinham a obrigação de cultivar a terra tornando-a produtiva e pagando os devidos impostos à Coroa.

Não querendo ocupar-se da Sesmaria, Tomé de Sousa transferiu-a para seu filho Garcia de Sousa d'Ávila.

Garcia de Sousa d'Ávila veio para o Brasil com o pai e trabalhou duro na construção de Salvador e é conhecido como "O primeiro Bandeirante do Norte". 

Tomé de Sousa doou a Garcia d'Ávila catorze léguas de terras de sesmaria que lhe haviam sido outorgadas pelo rei Dom Sebastião. Estas terras iam de Itapoã até o Rio Real e Tatuapara, pequeno porto cinqüenta metros sobre o nível do mar. Ali ergueu sua Casa da Torre em 1550. Em 1557, já era o homem mais poderoso da Bahia.

Grande desbravador, no final do século XVI sua propriedade já era a maior do Brasil, a se estender do rio Itapicuru ao norte até o rio Jacuípe ao Sul. Administrava seu latifúndio da Casa da Torre em Tatuapara, arrendando sítios a terceiros e fazendo uso de procuradores e ameríndios aculturados e libertos.


Ruínas da Casa da Torre, de Garcia d'Ávilla, 
localizada na praia do Forte, 
no município de Mata de São João,

Seu herdeiro foi Francisco Dias d’Ávila Caramuru, filho de sua filha Isabel d’Ávila (tida com uma índia) e de Diogo Dias, filho de Vicente Dias e Genebra Álvares e neto de Caramuru e Paraguaçu.



Mãe d'água de "Sipó"
Em 1639 foi fundada a primeira aldeia às margens do rio Itapicuru, chamada Massaracá, reunindo índios cariris. Em 1666 Massaracá enfrentava uma grande seca e nesta ocasião chegaram ali o Padre Jacobo Rolando e o irmão Teólogo João de Barros. Eles vinham em missão pelo sertão baiano passando por diversas aldeias e vilas até chegarem ali; foram responsáveis também por Nossa Senhora da Conceição de Natuba (futura Vila do Soure) e Santa Tereza Canabrava (futura Vila do Pombal), todas de índios Cariris, dizimadas em 1669.

Em 1698 foi criada a freguesia de Nossa Senhora do Itapicuru de Cima e assim surgiram as primeiras famílias da região. 


Em 1705  inúmeras sesmarias foram distribuídas ao longo do Rio Itapicuru trazendo novas famílias, tanto as dos senhores sesmeiros, quanto as dos vaqueiros e escravos.
Um desses grandes proprietários era o tenente coronel Gaspar Carvalho da Cunha. Registros no livro "Povoamento e ocupação do sertão de dentro baiano" de Mônica Duarte Dantas menciona este nome a respeito da má vontade em cumprir em 1717 um alvará de 1700 que foi representado pelo Padre Antonio de Andrade solicitando uma parte da terra aos índios da aldeia da Natuba. Consta que no mesmo ano Gaspar Carvalho da Cunha arrematara tais terras, sendo dono de seis sítios e muito gado no que depois tornou-se Nova Soure, muito maior que a atual, compreendendo também a atual Cipó e outros vizinhos.

Em 1727 a fim de cumprirem-se processos administrativos com mais rapidez na região foi fundada a Comarca de Itapicuru de Cima , da qual faziam parte nove vilas então ja existentes:
Conde, Abadia, Inhambupe, Água Fria, Jeremoabo, Itapicuru, Soure, Pombal e Mirandela.

Não se fala em Cipó como Vila nem povoado porque esta não existia; a região que hoje compreende este município era na época sitios, fazendas e aldeias que pertenciam a Nova Soure e vizinhanças.

Em 1730 O Padre Antônio Monteiro Freire, sesmeiro em Itapicuru de Cima, dirigiu uma representação ao Vice-rei do Brasil, a respeito da nascente de águas termais às margens do rio Itapicuru.

99 anos se passaram em que a região foi caminho de boiadas e pacatos sítios de plantações.

Somente em 1829, o governo da Província mandou construir, pelo capitão-mor João Dantas, um estabelecimento de banhos nas fontes da Missão da Saúde, a um quilômetro da vila de Itapicuru, sendo concluídas as suas obras em 1833.

Conta uma lenda que um caçador andava pelas margens do rio Itapicuru e nas suas andanças pelo sertão atirou em direção de um pássaro que estava pousado numa árvore e então revoou um bando, o qual chamou atenção do mesmo, e ao chegar perto, ouviu um borbulho de água jorrando no solo de temperatura quente e gosto estranho.
Percebeu que naquele lugar havia enormes árvores de Cipó, seguindo seu percurso em direção da cidade de Itapicuru da Missão, espalhou a notícia das águas descobertas e indicou a todos que a mesma estava na "localidade de Cipó", no cipoal às margens do rio Itapicuru.

Ainda em 1831, a Lei provincial nº 186, mandava construir no lugar denominado Mãe-d’Água de Sipó, uma casa para abrigo dos doentes que procuravam aquelas fontes.

Anos depois, por volta de 1843, a Assembléia mandou construir outra casa que, tal a primeira, passou a chamar-se “Casa da Nação”. Muito tempo depois, as duas casas abandonadas, ruíram devido a uma enchente do rio Itapicuru. 


Localização de Cipó no mapa da Bahia.

Gaspar Antonio dos Reis  
Certamente adquiridas do contemporâneo e homônimo Gaspar Carvalho da Cunha (filho do tenente coronel já citado em 1717), Gaspar Antonio dos Reis adquiriu uma extensão de terras circundadas à direita pelo Rio Itapicuru à qual chamou Fazenda Tamburil, limitada rio abaixo com a Fazenda Calumbi e rio acima com a Fazenda Cauanga; para o leste e sul fazia divisa com a Villa do Soure e as Fazendas Lagoa Funda e Tanque.
A casa ficava num espaço denominado "Laje" ate os dias de hoje.
Nasceu entre 1780 e 1800...
Tinha dois irmãos.
Teve quatro esposas, 12 filhos.

Faleceu em 07 de Janeiro de 1870.
A Fazenda Tamburil, de onde veio o nome Buril ou Buri foi dividida entre seus filhos e posteriormente subdividida aos netos e assim sucessivamente que venderam a terceiros e assim foi crescendo o povoado tanto na zona rural quanto na urbana.
Mas ainda hoje a maioria das pessoas principalmente na zona rural que continua com o nome de "Buri" é de parentes descendentes de Gaspar Antonio dos Reis.

Outros estão espalhados em Nova Soure, Feira de Santana e  Itabuna (BA); Governador Valladares, Betim e Ipatinga (MG); Aracaju (SE); Recife e Pesqueira (PE); Rio de Janeiro e Búzios (RJ); São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano, Diadema, Ribeirão Pires, São Vicente, Praia Grande, Guarulhos, Osasco, Marília, Itu, Salto e outras cidades do Estado de São Paulo; Curitiba (PR); Florianópolis (SC); Novo Hamburgo (RS); Orlando-Flórida (EUA) e Londres (UK).

Gaspar Antonio dos Reis foi enterrado na Igreja Nossa Senhora da Conceição em Nova Soure, comarca à qual suas terras pertenciam ainda.
Gaspar também possuía terras em Itapicuru e Tucano.

Vídeo Documentário caseiro sobre a descendência de 
Gaspar Antonio dos Reis

Cipó
Várias tentativas foram feitas para a construção de um balneário, mas somente em 1928 foi concedida permissão para a exploração das águas, fato que ocorreu em 19 de março do mesmo ano. Esta data assinala o início do progresso de Cipó que, a 8 de julho de 1931, foi elevado à categoria de município por força de decreto estadual de nº 7.479. Em virtude desse decreto foram anexados ao seu território os municípios de Nova Soure, ao qual Cipó pertencia na situação de povoado, Ribeira do Pombal, Tucano e Ribeira do Amparo.

Em 27 de maio e 19 de setembro de 1933 e 18 de julho de 1935, pelos Decretos Estaduais nº 8.447, 8.643 e 9.600, respectivamente, os municípios de Tucano, Ribeira do Pombal e Nova Soure obtiveram autonomia. O município de Nova Soure, porém, perdeu toda a área que hoje é Cipó, Ribeira do Amparo e Heliópolis, Em 1958 cipó perde Ribeira do Amparo que se emancipa que depois perde Heliópolis.
Assim, em 16 de maio de 1935, Cipó se torna Estância Hidromineral.

Casas de Banho e águas termais em Cipó na década de 40:







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"Cipó, a Pérola Barroca do Serão Baiano: 
verletras@gmail.com



Fontes de Pesquisa:
- "Cipó, a Pérola Barroca do Serão Baiano: 
verletras@gmail.com;
- Portal da Prefeitura de Cipó;
- Blog "Estância Hidromineral de Cipó"

Obrigado pela leitura, se possível,
deixe por favor um comentário, obrigado.

2 comentários:

Unknown disse...

Maravilha ... saber de onde vem os nossos descendentes... amo ler essa história dos meus antepassados... bjs E PARABÉNS PELA SABEDORIA

Danilo Marques disse...

Oi Juh, obrigado pelo comentário. Não sei de onde veio Gaspar, mas uma hora Verônica ou eu descobriremos.