Vinha eu da fonte com o pote d’água na cabeça quando começou aqueles troes-troes de chuva e foi aumentando. Chegando na porta da cozinha despejei o pote da cabeça, estava com a rúdia toda molhada e a roupa barrufada pelos chuviscos, tive que tirar o vestido, vesti outro seco e tomá um goripe de café quente para esquentar a caixa dos peito.
Já que choveu amanhã vou prantar dois caroço de mio porque a carestia tá braba, duas mão cheia de mio tá custando dez minréis e não dá pra’s galinha comerem a semana, tomara que não aconteça como o ano passado que só tive uns cambueiro.
Mas menina tou num fastio danado! Hoje comi uma colherada de arroz com uma fanisquinha de carne, o jeito é matar um pinto para ver se muda o gosto.
Correndo dos troes-troes me enganchei num garrancho no caminho da fonte quase caí, o pior é que se tivesse caído não tinha ninguém pra me acudir . Vou comer um bocado e ir nos pé de cajueiro antes que a catrevaje passe e leve as castanha.
Além disso, antes que anoiteça vou catar uns pau de lenha pra cozinhar feijão amanhã porque ao romper do dia vem uma catrupia de gente mondar o capim.
E acreditem, tudo continua como antes no Quartel de Abrantes.
Tradução
Fonte: cisterna ou poço artesiano.
Pote: vasilha de barro para encher de água.
Troes-troes: gotas de chuva ou o som delas no telhado.
Despejar o pote da cabeça: colocar no chão.
Rúdia: pano enrolado em circulo para equilibrar algo na cabeça.
Barrufada: úmida.
Chuvisco: chuva fina.
Goripe: pouco café.
Caixa dos peito: tórax.
Dois caroço ou duas mão cheia de mio: certa quantidade como vinte litros, ou dois litros de milho.
Carestia tá braba: os preços estão altos.
Dez minréis: dez reais
Comerem a semana: comerem durante a semana.
Cambueiro: espiga de milho pequena e faltando grãos.
Tou num fastio: estou sem apetite.
Uma colherada: um pouco.
Fanisquinha: pedaço pequeno.
Pinto: Frango ou galo.
Mudar o gosto: variar o cardápio.
Garrancho: galho seco no chão geralmente de plantas rasteiras ou arbustos.
Acudir: socorrer.
Catar uns pau de lenha: procurar lenha.
Comer um bocado: almoçar, jantar.
Vou nos pé de cajueiro: colher castanha.
Catrevaje: pessoas de má índole.
Romper do dia: por volta das quatro horas da manhã.
Catrupia: muita gente.
Mondar: limpar as ervas daninhas.
Quem disse que não nos comunicávamos muito bem no tempo da vovó? Então viva as novas possibilidades que se apresentam e certamente daremos um novo sentido para aquele antigo dito popular que diz: “o que não tem remédio, remediado está”, isto é, oralmente qualquer remédio é valido desde que haja comunicação.
Verônica Alves *.
Cipó, 22 de outubro 2006
* Verônica é filha de Nair e Mateus.
Nair de Joana e José. Joana de Domingos e Ana Rosa (Iaiá); José de Abilio e Joana (Vanum).
Mateus de Manoel e Francisca. Manoel de João Buri; Francisca de Elpidio e Benzinha.
Domingos, Vanum, João Buri e Benzinha, de José Antonio.
Abilio de Manoel Antonio.
Elpidio e Iaiá, de Lidia Caetana.
José, Manoel e Lidia, de Gaspar.
Verônica é autora do livro Cipó - A Pérola Barroca do Sertão Baiano, o livro que colocou definitivamente o Buri e nossa família na história de Cipó. Para adquirir contate: verletras@hotmail.com
Já que choveu amanhã vou prantar dois caroço de mio porque a carestia tá braba, duas mão cheia de mio tá custando dez minréis e não dá pra’s galinha comerem a semana, tomara que não aconteça como o ano passado que só tive uns cambueiro.
Mas menina tou num fastio danado! Hoje comi uma colherada de arroz com uma fanisquinha de carne, o jeito é matar um pinto para ver se muda o gosto.
Correndo dos troes-troes me enganchei num garrancho no caminho da fonte quase caí, o pior é que se tivesse caído não tinha ninguém pra me acudir . Vou comer um bocado e ir nos pé de cajueiro antes que a catrevaje passe e leve as castanha.
Além disso, antes que anoiteça vou catar uns pau de lenha pra cozinhar feijão amanhã porque ao romper do dia vem uma catrupia de gente mondar o capim.
E acreditem, tudo continua como antes no Quartel de Abrantes.
Tradução
Fonte: cisterna ou poço artesiano.
Pote: vasilha de barro para encher de água.
Troes-troes: gotas de chuva ou o som delas no telhado.
Despejar o pote da cabeça: colocar no chão.
Rúdia: pano enrolado em circulo para equilibrar algo na cabeça.
Barrufada: úmida.
Chuvisco: chuva fina.
Goripe: pouco café.
Caixa dos peito: tórax.
Dois caroço ou duas mão cheia de mio: certa quantidade como vinte litros, ou dois litros de milho.
Carestia tá braba: os preços estão altos.
Dez minréis: dez reais
Comerem a semana: comerem durante a semana.
Cambueiro: espiga de milho pequena e faltando grãos.
Tou num fastio: estou sem apetite.
Uma colherada: um pouco.
Fanisquinha: pedaço pequeno.
Pinto: Frango ou galo.
Mudar o gosto: variar o cardápio.
Garrancho: galho seco no chão geralmente de plantas rasteiras ou arbustos.
Acudir: socorrer.
Catar uns pau de lenha: procurar lenha.
Comer um bocado: almoçar, jantar.
Vou nos pé de cajueiro: colher castanha.
Catrevaje: pessoas de má índole.
Romper do dia: por volta das quatro horas da manhã.
Catrupia: muita gente.
Mondar: limpar as ervas daninhas.
Quem disse que não nos comunicávamos muito bem no tempo da vovó? Então viva as novas possibilidades que se apresentam e certamente daremos um novo sentido para aquele antigo dito popular que diz: “o que não tem remédio, remediado está”, isto é, oralmente qualquer remédio é valido desde que haja comunicação.
Verônica Alves *.
Cipó, 22 de outubro 2006
* Verônica é filha de Nair e Mateus.
Nair de Joana e José. Joana de Domingos e Ana Rosa (Iaiá); José de Abilio e Joana (Vanum).
Mateus de Manoel e Francisca. Manoel de João Buri; Francisca de Elpidio e Benzinha.
Domingos, Vanum, João Buri e Benzinha, de José Antonio.
Abilio de Manoel Antonio.
Elpidio e Iaiá, de Lidia Caetana.
José, Manoel e Lidia, de Gaspar.
Verônica é autora do livro Cipó - A Pérola Barroca do Sertão Baiano, o livro que colocou definitivamente o Buri e nossa família na história de Cipó. Para adquirir contate: verletras@hotmail.com
Um comentário:
Ler esse texto foi o mesmo que ouvir minha avó Francisca falar, minha avó e minhas tias e tios que moram nessa terra abençoada que tanto amo!!
Postar um comentário