Terra de meus ancestrais
Estância Hidromineral
Paradoxalmente verdejante no alto sertão baiano
Oásis da caatinga! - Onde vais,
Oh Itapicuru, rio magistral?
Cidade de águas termais e de calor humano
Os teus filhos, aparentados, misturados
Como o galho do umbuzeiro
Cujos frutos, seu trabalho, toda luta,
Transmite na doçura de um sorriso bem dado
A simpatia do burizeiro
ainda que no azedume da força bruta
Bendita seja a memória de Gaspar, o colonizador
E toda sua descendência
Espalhada pelo planeta
Benditos sejam os laços do sangue, onde for
Que não importa a procedência
Continuam dizendo "oxe", "É d'ôje", "nestante", "Êta"!
Sangue do vaqueiro
Do professor, do músico, do pintor,
Sangue do lavrador, da costureira,
Sangue do fazendeiro
Do feirante, do caixeiro, do apicultor,
Sangue do delegado, do juiz, da compoteira
Sangue dos Reis, dos Gama, dos Ferreira,
Sangue dos Santos, dos Marques, dos Telles, dos Santana,
Sangue dos Pitanga, dos Macedo, dos Dantas, dos de Jesus;
Sangue do retirante da seca traiçoeira
Sangue do sonhador cheio de gana
Sangue daqueles que permaneceram e fizeram jus.
Sangue de Gaspar, e seus filhos, doze enfim:
Ioiô, Mané, Miuda e Naninha,
Junior, João, Luiz Sobrinho e Senhorinha
Antonio e Constância (outra), José e Joaquim;
Sangue de Mãe Sinhazinha,
Que dos escravos foi protetora e fada madrinha.
Sangue de tantos que lutaram por seu amor de idílio
Sangue de Marcolino gameleiro, professor da familia inteira
Sangue de João Buri o vaqueiro apaixonado
Sangue de Tância que criou irmãos e filhos
Sangue de Quinquim, Octogenário flagelado pela corja cangaceira
Sangue de Elpidio Corda de Couro, o delegado.
Sangue de Domingos, juiz de paz com o coração diferente
Sangue de Abilio, que conquistou Vanum com amor de invejar
Sangue de Luiz, que dos seus foi o farol e a saudade
Sangue de Benzinha, mãe que teve o filho levado de repente
Pelo mesmo Lampião que dizia respeitar
Velhos, crianças, mulheres de toda idade.
Sangue de Jardelina, a viuva de Canudos, sobrevivente,
Que depois foi a grande parteira do Buri
Cujo filho também foi alvo do capitão esconjurado;
Sangue dos que vieram depois, e que certamente,
Foram os bravos valentes dali
Fazendo da prole de Gaspar o cordel mais arretado.
Sangue dos que vieram antes de tudo
Antes que as águas fossem exploradas
Antes do Hotel, antes da emancipação,
Antes de Getulio, da ponte, do cassino bacanudo
Sangue dos que já estavam na Cipó iluminada
Antes da atual população
Salve as famílias que chegaram depois
E todas as que já estavam antes conosco e dantes ainda
Salve os Brito, os Freitas, os Medeiros, os Anunciação
Salve os Ribeiro, os Cruz, os Monteiro, os Góes
Todas as demais famílias que faltam ser citadas ainda
E que fizeram florescer nosso oásis do sertão
Salve Evandro de Araujo Goes, O Professor
Patrimônio humano, história viva
Simpático e amoroso ancião
Tive a honra de vê-lo, cativante e doce senhor
Que seu legado sirva
Para a posteridade como bastião
Em memória de Ignácio Pereira do Passo, das águas o defensor
Em memória de Genésio Seixas Salles, construtor do balneário
Em memória de Antonio Siqueira Guimarães, o médico humanista
Em memória de Ana da Rumana, que no passado opressor
Filha de escrava, foi a primeira professora negra, fato revolucionário
Em memória de Maria Vestina, Dazinha e Zelita.
Salve as águas medicinais
Quentes, perpétuas, curativas - pense!
Salve a feira quem tem de tudo e mais ainda!
Salve os espetáculos matinais
Quando o Sol alvora no horizonte cipoense
Salve! Salve esta cidade linda!
Salve a coruja que eu vi piando na praça do mercado
Salve o céu que eu jamais imaginei que existia
Negro e estrelado como jamais havia visto
Salve este povo acolhedor e abençoado
Com o sotaque mais gostoso da Bahia
O qual tudo o que é falado fica mais bonito.
Salve Enok do Acordeon,
Mestre, intérprete e afinador
Música viva de Cipó e região;
Nas ondas daquele som
Não importa o compositor
É a melhor interpretação.
Salve Eraldo Reis e Lenivaldo Gonzaga, reis da Lira!
Trovadores, bardos, poetas da cidade
Legado do cancioneiro popular
Salve Eliana de José e Jandira
Artesã cheia de sensibilidade
Fazendo coisas lindas para o lar
Salve Verônica Alves, que nos fez presentes
Na história de Cipó, oásis do sertão
Que não mencionava nosso colonizador e pai;
Deu o devido lugar ao Buri e sua gente
No inventário de então
De onde nunca mais sai.
Salve Edson Fernandes, o perpetuador
Que fez o esquecido balneário cipoense
Ser lembrado em toda sua história
Desde os primordios do descobridor
Toda a arquitetura que lhe pertence
Se fazer para sempre notória.
Salve Verusca Reis, atleta internacional
Salve Rafaelle Souza, Fafá da Seleção
Em Cipó nascidas
Avante, que a final
É no pódium com a taça na mão
Sem medo e decididas.
Eu me ufano
Mesmo nascido longe assim
E não tendo tal privilégio
Mas tenho o sangue baiano
Correndo dentro de mim
Pertenço a este florilégio
Salve Cipó de todas as águas
Salve o nativo e o filho do retirante,
Salve e seja perene sua alegria
Que o rio leve suas mágoas
E que daqui para adiante
Seja você o farol da Bahia!
Danilo Marques
Um comentário:
Parabéns cidade maravilhosa que eu amo muito " lido poema "
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