domingo, 29 de dezembro de 2024

O CHINELINHO

 


Pequena era a mais alta de suas irmãs, nascera em 1906. O apelido irônico vinha de seu pai Marculino.

A mãe, Tância, fizera uma promessa que todas as filhas seriam Maria. Pequena era Maria Vitória.

Nasceram e cresceram no Camanduá.

Contava ela que ainda moça foi abordada por um homem sujo, empoeirado, rústico, que vivia viajando e vendendo coisas. Segundo ela, o homem mais feio que ela já havia conhecido.

Ele perguntou onde havia lugar para pousar.


À noite havia uma festa no Buri. Sem pavimentação ainda, as areias do povoado tornavam-no mais longe do centro de Cipó do que é hoje. Mas ele foi lá. Alguém com quem ele fez amizade o convidou.

Estava de banho tomado, terno trocado e limpo; penteado, perfumado, e ela não havia notado na sujeirada de dia, que ele tinha olhos azuis contrastando com a pele indígena; de certo, fisicamente era um caboclo descendente dos abusos das gloriosas bandeiras da coroa pelos sertões, e culturalmente vinha da maculação cultural das benignas missões jesuítas (ironias à parte, bendita seja a memória do Marquês de Pombal que extinguiu as capitanias, Aboliu a escravidão indígena e expulsou os jesuítas).


Segundo a vó Pequena contava, Maninho foi no mesmo dia, o homem mais feio e depois o mais bonito que ela conhecera até então. Dançaram, inclusive. 


Ele vinha da Freguesia de Bom Jesus da Boa Esperança, hoje município de Utinga, e casando-se com Pequena. Ficou no Buri.


Na época Cipó não era emancipada, pertencia à Nova Soure, por isso muitos de nossos ancestrais cipoenses tem documentos constando Nova Soure.


Maninho e Pequena custavam a ter filhos. As outras Marias e os demais irmãos mais velhos de Pequena iam trazendo seus sobrinhos e sobrinhas à luz, e ela, a cada gestação iniciada, perdia. Por isso, amadrinhou muitos sobrinhos, primos mais novos e filhos de primos; além disso, adotou algumas crianças, entre elas, Ernesto.


Durante este tempo, em 1933, o irmão mais velho de Pequena, Sergio, devido a uma briga com seu concunhado Zé de Naninha, a ponto de os levarem ao extremo do desajuizo, mandando pirambeira abaixo todo ódio que este causou naquele, fazendo Sergio, convencido pela esposa a irem embora para terras que havia adquirido em Castelo Novo, Ilheus, deixou o Buri na madrugada de 16 de Março de 1933, deixando somente uma carta de despedida à ainda bem menina Maria Luiza, Mocinha de Senhora, melhor amiga de Alzira, pois todos os dias se encontravam para brincar. Contam que a briga foi por causa da cerca que Zé de Naninha vivia colocando para dentro do terreno de Sergio. Mas estas brigas eram só um motivo causador da muléstia entre os dois; a gota d'água foi uma história que ficará fora daqui, em respeito aos que assim pediram, não por este cabra da mizera, comedor de água, mas, para, como pediu carinhosamente uma prima, "trazer à memória o que nos dá esperança" (Lamentações de Jeremias 3.21).


No Sul da Bahia Sergio construiu seu engenho de descascar mandioca, moinho de cana, debulhadores de milho, tudo movido à água. Suas irmãs Dona Maria e Maricota, esta com seu esposo Pedro Fidelis e suas filhas Lia e Deja, desceram também. 


Algum tempo depois, Pedro Fidelis, que trabalhava mangas de terrenos em fazendas da região, apresentou a Dona, seu amigo Domingos. Casaram-se e ela mandou buscar seus quatro filhos que estavam com a avó no Camanduá.


Pouco tempo depois, José Marques Sobrinho, Zim, filho mais velho de Sergio de Tância e Biquita de Maria de Chiquinho, voltava ao Buri trazendo As Boas Novas de Salvação por meio do Senhor Jesus Cristo, como Único Mediador entre nós E O Pai. Alcançou para O Senhor sua avó Tância, seu tio Zé Marques, suas tias Priquita, Dona, Caboquinha e Pequena. Voltava feliz a Ilhéus podendo dizer "Eu e minha casa serviremos ao Senhor" (Josué 24.15)


Sinhá Pequena de Tância, como suas afilhadas a chamavam, tinha uma máquina de costura manual, presente de sua mãe, que outras de suas irmãs também receberam.


O desejo de Pequena, em agradar as filhas que não teve, era grande a ponto dela começar a confeccionar bonecas de pano, as primeiras do Buri, do Camanduá, do Brejinho e demais povoados. Esta parte da história ouvi de Dora de Antonio, chorando, feliz, por abraçar um neto da madrinha que não vira mais.

As meninas até então, e também depois, brincavam com bonecas de sabugo de milho, e penteava seus cabelos às vezes rosa, às vezes ouro.


Ernesto se tornou homem feito, trabalhou na lavoura e depois construindo casas, e o casal continuava perdendo bebês, até que mais de vinte anos depois de casados vingou a primeira filha, Benaia, 1946. Um ano depois a segunda, Irondy, ou Di, minha mãe; e um Ano depois, Binoan. E não teve mais.

Seus filhos eram da idade dos netos de suas irmãs e irmãos mais velhos. Para compensar, tinha irmãos bem mais novos cujos filhos foram contemporâneos dos seus.


Um dia, quando Cipó ja estava emancipada, Maninho e Zé de Izauro, irmão de Julia de Rozendo, seu concunhado, esposo de Caboquinha, compraram um bananal em sociedade em Nova Soure e se mudaram para lá.

Ernesto já havia seguido sua vida.


Pequena e Maninho moraram por pouco tempo em Nova Soure.


Lá no Sul da Bahia, Zim casara com a prima Deja de Maricota em Rio do Braço e pouco tempo depois estava em São Paulo, trabalhando nas Indústrias Matarazzo. Após um ano, em 1944, mandou dinheiro para que o encontrassem a esposa, filha, cunhada e sogra, de navio, de Ilhéus a Santos (o sogro chegou depois), e agora estavam estabelecidos numa região de olarias chamada Taboão, na cidade vizinha de São Bernardo do Campo. 

É que antes de mandar buscar a esposa, já congregava na Assembleia de Deus de São Caetano e foi designado para assumir uma igreja ainda nascendo, no Taboão.

Após chegar, vieram seus irmãos Izaura, Maria, Ilda, Francisco, João, Alzira, Odete e Betinha, e posteriormente seus pais. 


Algum tempo depois chegavam Dona, Domingos e os filhos.


Então agora os parentes em São Bernardo,  davam notícias a Pequena e Maninho, dizendo que estavam num bom lugar, cheio de trabalho nas olarias e toda uma propaganda encantadora.


Esta excelente propaganda, tão atrativa, contribuiu definitivamente para que eu não tivesse o privilégio, a honra, a alegria, de ter nascido e crescido nas areias do Buri; brincando entre cajaranas e quixabeiras, correndo às margens do Itapiciru, falando a linguagem mais doce e melodiosa do mundo. Em 1952, dezenove anos depois do malestroso fi do coisa coisada causar estrago em metade do Buri, Pequena e Maninho, mais Cabôca e Zé de Izauro, deixavam a Bania, num pau de arara, assinando minha sentença com meus pais ainda crianças, e então não nasci no Paraíso chamado Bahia de Todos os Santos.


Quando me verem escrevendo neste dialeto lindo, não julguem dizendo que é bullying. Tenham empatia com quem não teve a felicidade que vocês, meus primos, tiveram, de sair ou ficar pela própria escolha.


Então, Pequena e Maninho com seus três filhos, atravessaram as estradas ainda de terra dos sertões baianos e de Minas até chegarem em São Paulo.


No caminho, em algum lugar no meio daquelas estradas sofridas, Di, a segunda filha, com cinco anos, balançando seus pezinhos como faz toda criança quando sentada num lugar alto, deixou cair seu chinelinho da carroceria do caminhão.

Não tinha outro. Não tinham quase nada.

Maninho vendeu sua parte nas bananeiras para o cunhado para comprar as passagens para a ilusão paulista.

A menina chorou e se entristeceu durante todo o resto dos dias intermináveis da viagem.


Ao chegarem, foram, assim como toda a família já estabelecida ali, trabalhar nas olarias, fazendo os cavalos girarem nas pipas para a extração do barro, enformando e queimando tijolos e telhas.


Sergio morreu ainda naqueles anos, triste, saudoso, cheio de memórias que não voltariam.


Zim caíra nas boas graças de Alfredo Bernardo Leite, dono de grande parte da região, prosperando e adquirindo propriedades, registrando-as como Vila Marques. Não o conheci assim. Quando eu nasci ele não tinha mais.


Pedro Fidelis vendia frutas.


Domingos Brandão teve sua própria queima de tijolo. Algumas casas antigas tem tijolos com a sigla DB. Depois foi trabalhar em empresa.


Maninho trabalhou tirando areia para construção no carrego ainda limpo, também vendeu frutas e posteriormente doces.


Tanto Pedro, quanto Domingos e Maninho conseguiram a duras penas dar casa às suas esposas Maricota, Dona e Pequena.


Caboquinha e Zé de Izauro chegaram. Estabeleceram-se diante da curva do córrego que muitas vezes enchia a casa. Zé passava meses em Nova Soure e voltava; seguindo assim por muitos anos. Quando eu era criança, achava que a tia Caboquinha era a mais velha, e quando cresci, descobri que era a caçula. O sofrimento de uma vida cheia de privações a judiava. Hoje vendo seus netos conquistando tantas coisas fico feliz pela memória dela.


Zim e Dejanira tiveram dez filhos. Dentre eles, Paulo, que ainda bem jovem já namorava Di, a menina que perdeu o chinelinho, prima de sua mãe que tinha a idade dele.

Casaram-se em 1970 e tiveram três filhos: Paulo Sérgio, Ligia e eu, não necessariamente nesta ordem. Sou o do meio, mas a língua portuguesa pede para eu ser o último.


Minha mãe foi uma mulher sonhadora.

Pintava quadros, bordava e pintava tecidos; desenhava, criava vestidos e era excelente cozinheira.

Meu pai batalhava sempre com dificuldades e ela costurava de tudo. De manhã limpava a casa esmeradamente; depois de almoçarmos, ela recebia as clientes; passava a tarde fazendo moldes, riscando e cortando tecidos; virava a noite costurando.


De vez em quando, em alguma hora do dia, chorava sozinha, e ao perguntarmos, ela disfarçava, brincava, nos abraçava e contava muitas histórias sobre coisas diversas. 


Eu nunca a vi desarrumada. Mesmo para ficar em casa, colocava seus vestidos de fabricação própria, se perfumava e arrumava os cabelos.

Quando perguntávamos onde ia, ela respondia perguntando se para ficar em casa tinha que ficar feia.


Não realizou seus sonhos artísticos, apenas sonhou, e cantava o Hino 126 da Harpa Cristã trabalhando e ignorando seus pesares, adorando A Deus.


Um dia, uma doença congênita começou a se manifestar. Lúpus eritematoso sistêmico.

Um mal sem cura, porém hoje com controle e tratamento. Conheço pessoas com esta enfermidade. Sofrem com dores, emagrecem às vezes, mas seguem a vida tratando. Há mais de 30 anos, porém, o pouco conhecimento médico tratou como artrose, artrite reumatoide, e quando diagnosticaram o lúpus, já estava muito avançado e ela morreu antes de completar 42 anos, em 10 de Março de 1990, no dia que completei 16 anos.

Um ano depois foi meu avô Maninho e meu avô Zé Marques (Zim).

Em 1994 a vó Pequena e o cinhado Pedro Fidelis.

Tia Dona havia partido muito antes, em 1983;  Tia e bisavó Maricota, em 1986; tio Domingos tempos depois.

Já se foram seis tios paternos, um ainda criança, nos anos 40, e os demais em 1999, 2005, 2009, 2015 e meu pai neste ano. Também a tia Benaia em 2017.

A vó Dejanira, há um mês, às vésperas dos 99 anos.


Eu vi muita morte.

Hoje quando alguém parte, eu sinto a tristeza da pessoa, expresso meu carinho, mas de alguma forma meu comportamento não tem a tristeza esperada pelos que julgam. Dizem que sou frio e seco. Cada um tem sua história e os fatos que forjaram nossas emoções e reações.


Voltando à minha mãe, a vida toda ela falou do seu chinelinho. Mesmo tendo seus chinelos, sandálias, saltos altos que ela amava usar até dentro de casa, mas aquele chinelinho ficou para sempre na memória dela.


No dia que eu tive a felicidade de pisar nas areias do Buri eu senti, como já escrevi no texto com este nome, que nunca fora de outro lugar a não ser dali.


Não importa se quem teve a alegria que a ilusão dos retirantes me tirou, me diga que não sou baiano. Não é onde a gente nasce que nos faz, é a nossa origem, nosso sangue dos dois lados que é só um igual os de lá, e o que sinto na alma quando vejo uma foto ou filmagem do povoado onde minha mãe nasceu e viveu, mesmo sendo arrancada pela raiz ainda pequena.


Quando ela dizia: "Porrr que", ela era de lá.


Eu sou de lá.


E um dia, se Deus permitir assim, vou sentar diante do nascer do Sol do Buri, e descalço, pisando nas suas areias, partir feliz, entendendo o porquê de um chinelo ser tão importante...


Porque assim como o judeu, negando-se a cantar um Hino de Sião em Terra estranha, os pezinhos 34 da minha mãe não deveriam ter pisado outro lugar.


Danilo.


"Se arguma notícia das banda do norte, tem ele por sorte o gosto de ouvir; Meu Deus, meu Deus; lhe bate no peito saudade de móio, e as água nos zóio começa a cair. Ai, ai, ai, ai. (Luiz Gonzaga, "A Triste Partida")


Na foto: Buri, Cipó, Bahia, 1952: Benaia, minha tia, aos 6 anos e Irondy, minha mãe, aos 05.


Escreva também a história de seus pais ou avós, para ser lembrada.


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Há dez anos escrevo um livro contando nossas histórias e ele um dia terminará. Se haverá menção aos seus pais e avós, depende de você.

Se não se sentir seguro com a escrita, me envie do seu modo, em particular e acertaremos juntos o texto.


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

CORAÇÃO DE BURI

 


Quando a graúna tatala forte

Suas asas no sertão

O coração do vaqueiro bate mais elas;

Não, não pensa em má sorte

É sardade misturada com emoção

E as lembranças mais belas.


Tais lembranças não estão na memória,

É algo inexplicável

Parece que a alma trouxe junto;

Circula pelo corpo as linhas desta história,

Passado inalcançável,

Que não finda o assunto.


E aquele assum preto traz pra gente

O galope do marrano dos Reis,

Gaspar cabra da peste!

Da cor dos seus cabelos, batem veementes

As asas, como cavalos, dois, três,

A perder-se no horizonte do Nordeste.


Neste céu da cor dos seus olhos,

Ela volta e rodopia sobre a fazenda,

E o trote vai e volta sobre a areia;

Eu sinto, nos porões dos refolhos 

Da alma que não carrega lenda

Mas o sangue do Buri nas veias...


Em cada alvo grão deste solo, cave,

E verá que suor e sangue regaram vagas

Que somente o Sol baiano viu;

Que o canto mavioso da ave   

Ressoe nestas plagas:

- Fico- tíu! Fico-fico ti-tíííu!


E na combinação dos sinos 

Em notas oportunas,

Que o gado traz molengo,

O buri já teve um hino:

O ranger das rodas, o canto da araúna,

E o "tengo-lengo-tengo".


Talvez um médico já ouviu,

Quando a consultar um de nós,

E nada falou, sem entender;

Era o eco das margens do rio,

Quando "o painho" pensava só,

Co'as estrelas a se perder:


Ouviram do Itapicuru as margens quentes

De um povo ohzado o seu sotaque belo

E O Sol da esperança já brilhava;

Não há penhor que pague a nossa gente,

De braços fortes e o olhar singelo

Que desde ali o porvir desafiava.


Canta e voa, passupreto!

Leva um recado a todo filho espalhado,

Que se lembrem quando tu cantar:

- Quem não aprende sua história não é completo,

Quem aprende é apaixonado,

E deseja retornar.


Danilo








quinta-feira, 28 de novembro de 2024

JOSÉ VITOR VAQUEIRO

Texto do primo José Rogério de Santana. 

    José Vítor vaqueiro era filho de Odilon e neto de Joaquim Santana. 
    Alguns de seus irmãos: Manoel Vítor, João Vítor, Maricota, Fenelon, minha avó paterna Maria Isabel, a qual não conheci. Os outros citados eu tive a oportunidade de conhecê-los. 
    Sabemos pouco sobre a vida de Zé Vítor vaqueiro, mas o suficiente para acreditar que ele tinha um dom especial, era um vaqueiro afamado, com seus aboios improvisados emocionava a todos que o escutava. Com D. Francisca Lucas conhecida como Chica Luca, teve as filhas Julinha e Julieta. Julieta atualmente moradora aqui de Olhos D’água, não lembra dele, mas lhe contam que seu pai colocava ela e a outra filha Julinha no colo e soltava intensos aboios. 
    Pela sua capacidade de lutar com gado, foi convidado a trabalhar em uma fazenda em Esplanada onde seu destino estava traçado a viver ali por pouco tempo pois logo seria vítima de uma emboscada armada pelo seu patrão ciumento, com medo de perder sua amada. 
    José Vitor foi assassinado e de acordo com populares que se faziam presentes na região, onde aconteceu tal homicídio, foi relatado que o acusado declarou que cometeu tal atrocidade por ter confundido a vítima com uma araquã no meio da mata fechada. Quando José Vitor morreu, Julinha tinha sete anos e Julieta tinha cinco. Meu pai com 92 anos que também foi vaqueiro, sobrinho do saudoso José Vítor vaqueiro, conta algumas histórias dele e que nos emocionam. Uma delas é de que ele conhecia seu gado de forma individual pele rastro que cada um deixava no chão, e a coragem de enfrentar boi valete, e seus repentes em forma de aboio como já foi citado no início desse relato. 
    Ele tinha um amigo chamado Janjão que morava na Mandaçaia; um certo dia ele numa roda de conversa por volta de umas dez horas da noite desafiou ao Zé Vitor a pegar na mata fechado um boi valente e trazê-lo até as quatro horas da manhã ao matadouro. Desafio aceito, Zé Vítor convidou seu companheiro de luta Paulozinho, o qual se fazia presente, mandando buscar dois cavalos e logo seguiram com destino aonde estava o boi. Assim que chegaram no lugar indicado, se depararam com o gado descansando na malhada; assim que o boi percebeu a presença dos dois, saiu assustado na mata fechada, Zé Vitor o seguiu montado em seu cavalo em busca do boi valente, perdeu-se de vista do seu companheiro, mas logo em seguida foi encontrado já com o boi no chão e laçado. Logo retornaram com o boi na corda passando aqui em Olhos D’ água, por volta das três horas da manhã soltando seus aboios e acordando os moradores, os quais se emocionavam ao ouvi sua voz tocante e seus versos improvisados. 
    Ele era cunhado e amigo de seu Zé Lucas, muito conhecido e muito querido aqui da nossa comunidade. Assim como o próprio Zé Vitor e muitos outros criadores botavam seu gado no tabuleiro e de vez em quando iam olhar, para ver como estavam, até que um dia sumiu algumas cabeças desse gado do rebanho de seu Zé Lucas. Alguns meses depois ao fazer uma viagem, eu não sei dizer exatamente o destino, mas provavelmente para a praia, já que seu Zé Lucas era tropeiro, no caminho resolveram parar para descansar, e de repente ele avistou em uma roça pessoas com algumas cangas de bois arrastando arado. O Zé Vitor olhou para o Zé Lucas e disse, amigo ali tem dois dos seus bois que foram roubados, encangados. Seu Zé Lucas retrucou: que nada rapaz! Você está enganado. Então se você não acredita vamos lar ver. Chegaram pra perto e a tal suspeita foi confirmada. Questionaram ao falso dono, ele confessou que tinha comprado. Comovido com a situação os bois foram devolvidos, pois os mesmos tinham sido fruto de roubo. 
    Zé Vitor tinha suas limitações, como ser humano também foi um pecador, assim como eu e você. Mas confiamos em Deus que sua alma se encontra descansando ao lado de Deus. Descase em paz tio Zé Vítor! 

 Rogério Santana

Imagem ilustrativa.
Fonte da imagem:
abihrn.com.br


sexta-feira, 22 de novembro de 2024

SER-TÃO JOVINA, HISTÓRIAS DE AMOR E FÉ NO ARIBICÉ




O livro "Ser-Tão Jovina, Histórias de Amor e Fé no Aribicé" é uma parte considerável de nossa história.

Nossas raízes se espalharam por todo o semiárido e depois pelo país inteiro e hoje fora. 

José Rufino foi irmão de Elpidio, o "Corda de couro", (pai dos Gama do Buri), que todos vocês conhecem como pai do menino Jorge do episódio de Lampião...

Pois bem, José Rufino, irmao de Elpidio, teve sua descendência na Terra de origem de seu pai, Rufino.

E esta descendência é grande e abençoada.

Nossa prima Iris é uma dessas descendentes, e passou infância no Buri; foi afilhada de Mocinha de Luiz e Senhora e muitas coisas bonitas tem a nos contar das suas lembranças no Buri e de sua mãe, Jovina do Aribicé.

Adquiram por este site ou direto com a autora:

https://www.scortecci.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=14801&friurl=_-SER-TAAO-JOVINA--Iris-Miranda-_



sexta-feira, 15 de novembro de 2024

OS FILHOS DE JOSÉ ANTONIO DE GASPAR




Em meados do Século XIX, dividido entre os doze filhos de Gaspar, a fazenda Buri logo se tornaria povoado, quando estas doze partes fossem divididas entre os inúmeros netos.


Um desses doze herdeiros, José Antonio, estava muito interessado numa prima lá das bandas do outro lado, mas ela estava prometida a outro.


Francisca Bibiana de Sant'Anna amava José Antonio dos Reis, filho de Gaspar e Antônia. Casou-se, porém, com o homem que seu pai decidiu que deveria ser seu marido. Coisa infeliz e muito comum na época, independentemente de lugar, classe social, credo, ou o que mais que seja.


Porém, Francisca e "Zé do Buri" tinham um plano... Ela casou. Durante a festa pediu licença e foi para o quarto se trocar. Tirou o vestido de noiva, colocou outro. Colocou outro por cima, e outro; mais um, mais outro e mais outro. Vários. Então foi à janela e em instantes já estava na garupa do cavalo de José Antonio rumo ao Buri, no horizonte à frente.


Estamos falando das décadas de 1860/70, e a fazenda Buri mantinha, infelizmente, como a maioria dos latifundios brasileiros, pessoas escravizadas. Não importa quem tratasse bem, só o fato de ser escravizado já era mal trato. Porém, dentro dessas circunstâncias consideradas comuns naqueles tempos, os cativos daquela casa em particular sofriam menos, vamos assim dizer. Por isso chamavam José e Francisca de Ioiô do Buri e Mãe Sinhazinha, respectivamente. 


Infelizmente no Buri houve quem castigasse. Mas na casa de Ioiô e Sinhazinha, não.

Houve no Buri até quem manteve pessoas escravizadas décadas após a abolição.

Mas ao contrário, bem antes da abolição, na casa de Zé do Buri sobrou somente um. Não sei dizer se foi por causa da Lei dos sexagenários, ou do ventre livre, ou se foram morrendo. Só sei que sobrou um, e em acordo com uma das cunhadas de Francisca, este trabalhava um dia naquela casa, outro dia na outra. Só que lá na outra ele era maltratado.

E ele contando à Mãe Sinhazinha, pediu: - A senhora me deixa ir embora? Prometo que se vier a abolição, eu volto para soltar fogos e a senhora saber que estou vivo.

Ela permitiu e ele se foi.

Numa noite lá pelo meio de 1888, houve fogos naquela porteira. Só não sei afirmar se alguém contou logo aos demais.


José Antonio e Francisca Bibiana tiveram dezessete filhos: Gaspar Antonio Neto, Domingos Alves, João Bernardino (João Buri), Luiz Gonzaga (Luiz de Senhora), Constância (Tância), José, Vicente, Antonio, Francisca (Chica de Rodolfo), Donanna, Mariana, Mariana Sinharinha, Joana Francisca (Vanum de Abilio), Elevita (Biita de José Ferreira), Maria da Laje (Maria de Thomás), Maria Pureza (Benzinha de Elpidio) e Ana de Alfredo (Nanã).

E todo mundo perguntava como Zé do Buri conseguiria casar dez filhas.

Pois não só as dez casaram, como Constância ficou viúva quase recém casada e logo casou-se novamente. 

Outra curiosidade foi que as gêmeas se chamaram ambas Mariana. Para diferenciar, uma passou a atender como Sinharinha.


Na imagem aqui apresentada, os únicos três filhos que tenho fotos: Domingos, Sinharinha e Constância. 


Aqui no grupo desconheço se há descendentes de Gaspar Neto, José (este citado), Vicente (este citado, pois há outros Vicentes), Antonio (este citado, pois há outros Antonios), Mariana (esta citada, pois há outras Marianas); temos, porém, muitos netos e bisnetos de Benzinha, Vanum, Biita, Luiz, João Buri, Maria da Laje, Nanã e Donana. 


Por favor, tragam fotos deles para nós.


Obrigado. 


"O povo sem tradição, morre uma vez a cada geração. "


Danilo

domingo, 25 de fevereiro de 2018

ESCRITOR E HISTORIADOR CLÁUDIO DE BRITTO REIS

Conheci um primo lá dos Olhos D'Água, Tucano (BA): José Raimundo Oliveira Reis, neto de Anelino Gonçalves dos Reis, fundador de Olhos D'Água.
Como sempre faço pergunto dos avós, bisavós, para ir montando meu quebra cabeça.
Ele ainda vai buscar os nomes pra mim, mas pelo que entendi, vem de um irmão de Quinquim do Fundão (Joaquim José de Santa Anna), o que é um caminho novo para as pesquisas, pois é desconhecida para mim ainda a história de Quinquim, com exceção do episódio com os cangaceiros.
No meio da conversa ele nos deu mais um presente, dizendo:
"Eu tive um tio, irmão de meu pai, que residia no Rio de Janeiro, era fascinado pela figura do Marquês de Pombal e sobre ele escreveu dois livros. Ele também começou levantar dados sobre a nossa família com o propósito de escrever um livro, pena que tenha falecido antes de concluir o trabalho de pesquisa."
Então fui procurar a biografia de Cláudio de Britto Reis, este tio, e encontrei seus livros, mas ainda estou à procura de sua biografia.
Segue aqui os livros de nosso ilustre primo CLÁUDIO DE BRITTO REIS:








Assim que eu tiver a biografia de Cláudio de Britto Reis publicarei aqui também.
Gratidão pela leitura.
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Gratidão!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

IRÊNIO


Existe no Buri
Um bom proseador
Conta histórias de prender a atenção
Mesmo o que eu nunca vi
Ele me faz conhecedor
Tamanha a interpretação

Histórias reais
Narrações misteriosas
Fatos engraçados
Tristes memoriais
recordações ditosas
Causos bem contados

Senta-se cheio de laranjas, é o que lhe digo...
Vai cortando, vai contando,
Num instante está rodeado de gente...
Familiares e amigos,
Mais gente se aproximando
Do narrador eloquente

Irênio, de Francisquinha de Luiz e Senhora,
Também de Maninho Teles,
Casado com Neuza de Salvador e Inês
Esta, doce e carinhosa, colabora,
Dá fé de cada um deles
Dos causos e narrações que ele fez

E o semblante, pense...
Que a idade não alcança,
E nem se corta no sol do sertão
Seu sorriso cativa e vence
Seu olhar passa confiança
Ninguém quer “imbora” não

Sua voz, sua risada,
Tudo prende o ouvinte vidrado
Pena que o dia passa,
Quando tem pergunta indesejada
Sobre coisas que os antigos tem segredado
Irênio contorna, faz suspense, se sai bem,
                   [e de novo nos laça

Vida longa ao contador bom de prosa
Trabalhador da terra, no eito bravo
Homem de valor
Ana, Fabiana, Salete e Istela são suas rosas
Léo, Marcelo e Fábio os cravos
E Neusa a rainha flor