sexta-feira, 29 de novembro de 2024

CORAÇÃO DE BURI

 


Quando a graúna tatala forte

Suas asas no sertão

O coração do vaqueiro bate mais elas;

Não, não pensa em má sorte

É sardade misturada com emoção

E as lembranças mais belas.


Tais lembranças não estão na memória,

É algo inexplicável

Parece que a alma trouxe junto;

Circula pelo corpo as linhas desta história,

Passado inalcançável,

Que não finda o assunto.


E aquele assum preto traz pra gente

O galope do marrano dos Reis,

Gaspar cabra da peste!

Da cor dos seus cabelos, batem veementes

As asas, como cavalos, dois, três,

A perder-se no horizonte do Nordeste.


Neste céu da cor dos seus olhos,

Ela volta e rodopia sobre a fazenda,

E o trote vai e volta sobre a areia;

Eu sinto, nos porões dos refolhos 

Da alma que não carrega lenda

Mas o sangue do Buri nas veias...


Em cada alvo grão deste solo, cave,

E verá que suor e sangue regaram vagas

Que somente o Sol baiano viu;

Que o canto mavioso da ave   

Ressoe nestas plagas:

- Fico- tíu! Fico-fico ti-tíííu!


E na combinação dos sinos 

Em notas oportunas,

Que o gado traz molengo,

O buri já teve um hino:

O ranger das rodas, o canto da araúna,

E o "tengo-lengo-tengo".


Talvez um médico já ouviu,

Quando a consultar um de nós,

E nada falou, sem entender;

Era o eco das margens do rio,

Quando "o painho" pensava só,

Co'as estrelas a se perder:


Ouviram do Itapicuru as margens quentes

De um povo ohzado o seu sotaque belo

E O Sol da esperança já brilhava;

Não há penhor que pague a nossa gente,

De braços fortes e o olhar singelo

Que desde ali o porvir desafiava.


Canta e voa, passupreto!

Leva um recado a todo filho espalhado,

Que se lembrem quando tu cantar:

- Quem não aprende sua história não é completo,

Quem aprende é apaixonado,

E deseja retornar.


Danilo








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